ARTIGO

Yaoi, o mangá gay

Pergunte a qualquer pessoa o que ela pensa sobre a sexualidade japonesa, e resposta deverá ser “são ultraconservadores”. A Terra do Sol Nascente, porém, tem lá suas surpresas...

por João Marinho

No que diz respeito à cultura gay, os japoneses desenvolveram um tipo de arte que cada dia ganha mais fãs: o yaoi. Mais correto, porém, seria dizer “as japonesas”, pois é um tipo de arte majoritariamente feita e consumida por mulheres.

E o que é yaoi?
Sabe aquelas revistas em quadrinhos japonesas, os mangás? O yaoi começou como mangá, abordando as relações afetivas, sexuais e explícitas entre homens – mas, hoje em dia, existem animes (desenhos animados) e até games com essa temática!

A palavra “yaoi” originou-se da frase “yama nashi, ochi nashi, imi nashi”, que significa “sem clímax, sem significado, sem resolução”. É uma referência ao doujinshi Rappori Yaoi Tokushu Gou, publicado em 1979, que trazia cenas e histórias de amor e sexo entre homens sem uma estruturação tradicional.

Doujinshi é o equivalente japonês do nosso fanzine, ou seja, é uma produção feita por fãs, característica até hoje mantida por inúmeros trabalhos yaoi, embora hoje também existam aqueles realizados por profissionais gabaritados.

Fãs de quê?
De outros mangás, animes (desenhos animados japoneses) ou games. A ideia é simples: tomam-se emprestados personagens de outras produções, como, por exemplo, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball ou Digimon, e criam-se histórias homoeróticas para eles.

Com a evolução da arte, no entanto, também foram criados trabalhos com personagens originalíssimos. A saga Gravitation é um dos melhores exemplos desse tipo de produção.

Algumas exigências
O yaoi caracterizou-se por um traço suave, refinado e bonito. Por isso, muitos personagens emprestados têm de ser redesenhados.

Outra exigência diz respeito aos ativos e passivos. Consolidou-se a tradição de que o ativo (semeru) deve ser mais alto do que o passivo (ukeru). Não há versáteis ou “reflexivos”. O personagem ou dá ou come – e ponto final. Pelo menos, essa é tradição – mas vale dizer que alguns autores têm "burlado" a regra.

O conteúdo
Também possui regras. Por trás das cenas excitantes, há muito amor, romantismo e ideal de nobreza, inspirados nas relações homossexuais entre antigos militares e samurais.

A gênese do yaoi
Os ocidentais contribuíram bastante para o surgimento do yaoi. Foi por meio da atuação de dois ocidentais – um tal General Perry e Charles Wirgman – que as mulheres começaram a fazer mangá e que estes saíram do lugar-comum da pornografia barata, no final do século 19. Ah, sim, faltou dizer que os japoneses já fazem mangá há muito tempo. O mais antigo data de 1702.

Os primeiros yaois
Na década de 70, duas mulheres, Moto Hagio e Keiko Takemiya, acumularam influência no mundo do mangá e começaram a explorar histórias com temática homoerótica masculina. As obras Toma No Shinzo (1974), de Hagio, e Kaze To Ki No Uta (1976), de Takemiya, são reconhecidas como os primeiros yaois.

Arte contemporânea
Atualmente, a produção está a todo vapor, e, conforme já referido, são criados yaois em anime e em games – mas o termo “yaoi” está em desuso.

Hoje, os japoneses preferem usar, sobretudo no mercado editorial, o termo “Boys’ Love” ou “BL” para se referirem a todos os tipos de arte com conteúdo homoerótico masculino feita e consumida por mulheres (não pensem que o yaoi é a única). No Ocidente, entretanto, a palavra continua bem popular.


Imagens: reprodução
Anote na agenda: na próxima segunda-feira, dia 17/05/2010, o Projeto ENTRE HOMENS abordará, em sua reunião na cidade de São Paulo, o tema quadrinhos gays. A data e o local serão divulgados pelo Twitter da Sex Boys.