REPORTAGEM
por Deco Ribeiro
Passa um pouco das 20h quando eu chego a um apartamento simples, na periferia de Campinas/SP. Sou recebido pelo dono da casa, Alexandre, funcionário público na casa dos 40 anos. Na sala, conversando, cerca de oito pessoas. Preparavam-se para uma suruba...
... Mas com alguma coisa em comum
Em grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, já é possível encontrar sex clubs ou até casas noturnas que se dedicam ou estimulam a orgia entre homens.
Isso sem falar nos lugares “não-especializados”, como saunas ou darkrooms, mas onde, aqui e ali, há um grupinho se divertindo. A fantasia de transar com várias pessoas ao mesmo tempo e de ver ou ser visto nessa situação atravessa o tempo e o espaço pelo menos desde as orgias do Império Romano.
Logo, não era essa a novidade. O curioso ali – e que me fez comparecer ao apartamento – era o fato de ser uma suruba na casa de alguém, em um prédio residencial, com pessoas (uns feios, outros bonitos) que se conheceram ou foram contatadas pela Internet e que, além da idéia do prazer em grupo, nada tinham em comum. Uma prática que os escolados chamam de suruba caseira.
Lista de convidados
O esquema é bastante simples. Uma vez escolhido o local, os convites são feitos. Você pode ser chamado por algum amigo, depois de uma conversa em um chat ou... Porque veio da última vez. “A primeira suruba caseira que montei foi há dois anos. Vieram quatro pessoas. De lá pra cá, o grupo cresce cada vez mais”, me conta Alexandre. Aparência física ou medidas não importam. “É o abandono da estética em prol do prazer”, diz ele, explicando que o sexo acontece em “um darkroom particular”, um cômodo da casa, totalmente às escuras.
Entre os presentes, de estudantes de 18 anos a senhores casados de 43. A maioria, pessoas com quem você cruzaria em um banco. De zero a dez, a média é 7, com um 10 e dois noves. Galerinha boa.
Dinho, 18 anos, é o mais novo. É sua segunda suruba, mas, na primeira, ele ficou só olhando. É o que pretende: “Já vi em filme, mas, ao vivo, é outra coisa”. “O corpo do macho é maravilhoso”, interrompe outro participante, que se identifica como “Rosca”. É sua primeira vez. William, 23, é o encarregado de quebrar o gelo, com algumas brincadeiras de salão: “Não vejo nada demais, mas alguns ficam nervosos”.
Rogério, 19, e Marcão, 22, estão entre os nervosos – mas por outro motivo: são colegas de trabalho, mas não sabiam das preferências um do outro. Com Rogério, está Fabiano, 24, que sempre quis participar de uma orgia. Com Marcão, José Ricardo, 26, que já participou de uma suruba, mas, inibido, saiu correndo nos primeiros cinco minutos. Marcão ameaça fazer o mesmo.
Tirando a roupa
Enquanto todos esperam um carro com mais quatro pessoas, já são quase 23h e as preliminares ainda nem começaram – mas, com exceção dos dois colegas de trabalho, o povo parece relaxado, como se já se conhecesse. Rosca lamenta e diz que precisa ir: é de São Paulo, casado, já é quase meia-noite e ainda não sabe o que dizer em casa.
William pega uma garrafa e começa uma brincadeira: quem a garrafa apontar deve responder uma pergunta. Se errar, tira uma peça de roupa. Apesar da insistência, resolvo não participar.
Dinho é o primeiro a tirar a camisa: “Não tiro a bermuda porque estou sem cueca”. A platéia delira. Rola um pequeno estresse pela não-participação de Rogério. “Tenho que me soltar mais, gente!”, argumenta ele.
Alexandre, o anfitrião, está nervoso com a demora dos quatro que vêm de carro. “Não é que me estressa, mas me desgasta. Tenho que me desdobrar pra dar atenção a todos e, de certa forma, me sinto responsável: o povo está vindo à minha casa”, diz ele, enquanto revela que, por isso, nem sempre participa – e oferece refrigerante e cerveja. Pergunto se compensa todo o esforço. “Bastante. O prazer de ter proporcionado prazer aos outros já me satisfaz”.
Sexo grupal
Os quatro do carro ligam: estão perdidos no bairro. Alexandre sai em busca deles. Nesse meio tempo, chega mais um participante, atrasado. Alexandre volta com os perdidos, que não eram quatro, mas cinco. Júnior, 21, o motorista, chega animado: “Hoje, resolvi relaxar e gozar!”.
A noite avança, e a suruba ainda mantém ares colegiais. A maioria já está nua, mas ainda brinca. Só que a brincadeira, de “Verdade ou Desafio”, foi transferida para o quarto – e vai ficando picante. A maioria já se excita só com a situação.
William sorri com a satisfação de um trabalho bem-feito – e apaga a luz. Como se combinado, ninguém fala mais nada. Basta a mudança de clima para a coisa fluir. Alexandre observa da porta, junto comigo. “Não preciso me desinibir”, diz ele, “mas respeito os novos e sei que eles precisam”.
Realmente. Em quatro horas, o grupo antes tímido passa a ser uma animada orgia de 15 pessoas. Alexandre vai buscar gel e camisinhas e distribui uma unidade para cada pessoa. Agora, nada mais o impede de relaxar e mergulhar em sua própria suruba.
E o repórter?
Eu, meio sem jeito, arrumo uma cadeira e fico na porta, fazendo anotações. Os convites (e as tentações) são vários, mas o profissionalismo fala mais alto. Não seria dessa vez que experimentaria o tal “darkroom particular” – mas admito que meu lado voyeur curtiu a experiência.
Lá pelas tantas, cruzo com Dinho na cozinha, só de cueca, bebendo água. Suado, exausto, já traçou metade do povo. Lembro que ele havia falado que ia só assistir. “A carne é fraca”, responde, tímido. É a deixa para eu sair de fininho antes que ceda à tentação...