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INSTINTO SELVAGEM


A cena é a mesma em todos os lugares. Numa discussão sobre gays, lésbicas e/ou outras minorias sexuais, sempre há um homófobo para sacar o argumento de que "isso é contra a natureza". Será? Segundo a bióloga Joan Roughgarden, da universidade de Stanford (EUA) - Ela mesma uma transexual-, de jeito algum!

por Graziele Marronato

Roughgarden contradiz a teoria, de cores darwinianas radicais, de que o sexo é apenas uma estratégia reprodutiva. Em seu livro "Arco-Íris Evolutivo: Diversidade, Gênero e Sexualidade na Natureza e nas Pessoas", a bióloga defende que, apesar de haver somente dois tipos de gameta (óvulos e espermatozóides), há muito mais nuances na sexualidade de diversas espécies.

Diversidade ao natural



Segundo ela, em um recife de corais, um terço dos peixes troca de sexo ao longo da vida, sem falar que pode haver mais de um tipo de macho ou de fêmea - e Roughgarden não está sozinha nessas contestações. É cada vez mais freqüente o registro de comportamentos homossexuais entre animais. Atualmente, são conhecidos mais de 300 vertebrados que de alguma maneira os praticam. A conta é de Bruce Bagemihl, outro biólogo ligado a pesquisas sobre sexualidade animal, que catalogou as espécies. Há pesquisadores que afirmam que esse dado não significa necessariamente uma conduta homossexual. A própria Joan Roughgarden, em entrevista à revista "Época", declarou que uma análise apurada poderia descartar 10% desses casos - mas, ainda assim, o "número [...] é expressivo demais para ser ignorado". A seguir, você verá alguns animais que apresentam comportamento homo, bissexual e/ou muitas vezes promíscuo para dar como exemplo àquele seu "colega" preconceituoso...

Ménage no oceano

A vida sexual dos peixes não é lá muito agitada. A própria reprodução se dá sem contato sexual: a fêmea põe os ovos na água e o macho despeja o esperma em cima deles - mas, mesmo assim, o peixe- bola de guelra azul, comum na costa atlântica dos Estados Unidos e do Canadá, apresenta três tipos de macho. Os maiores dominam o território com as diversas fêmeas. São os típicos provedores da prole. O segundo tipo, mais "cafajeste", passeia pelos arredores e, de repente, dispara na direção de alguma fêmea que esteja pondo ovos. Depois, vai embora sem dar explicação. O terceiro tipo é o mais curioso. O macho dessa categoria parece uma fêmea comum e é até cortejado pelos dominadores. Depois, durante a cópula, os dois nadam juntinhos com a fêmea e fertilizam os ovos. Um perfeito ménage à trois.

Mosca-macho, sim, Senhor

As drosófilas, aquelas mosquinhas chatas que rondam as bananas, já têm fama considerável nos estudos genéticos - mas um dos mais incríveis foi apresentado em 2005 pela revista "Nature". Drosófilas fêmeas foram submetidas a uma modificação do gene fruitless (infrutífero, em inglês) e passaram a apresentar comportamento sexual tipicamente masculino, cortejando outras fêmeas com sons produzidos pelas asas e toques leves das patas, mas sem copular. "Os trabalhos mostram que parece haver um substrato genético por trás do comportamento sexual. É possível que, em organismos superiores, como o homem, exista uma rede análoga de genes mais complexa", disse, na época, o geneticista Marcelo Nóbrega, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Pegação entre golfinhos

Em 2001, biólogos realizaram um estudo muito revelador na ilha de Fernando de Noronha que encontrou evidências de comportamento homossexual entre golfinhos na costa brasileira - o que incluía machos praticando sexo oral e indícios de lesbianismo. O pesquisador, José Martins, afirmou que foram observados 21 casos de relações homossexuais entre golfinhos - e oito delas incluíram sexo oral. Não é à toa que o golfinho é considerado um dos bichos mais inteligentes...





Papai e papai

Um dos casos mais surpreendentes ocorreu no zoológico de Overloon, na Holanda. Os funcionários já sabiam dos relacionamentos homossexuais entre cegonhas machos e fêmeas.
Resolveram, então, fazer um teste: colocaram ovos em seus ninhos. E não é que eles não só chocaram os ovos, como também vêm cuidando muito bem dos filhotes? E o que é mais legal: as cegonhas "héteros" não demonstram qualquer preconceito.

Pingüins românticos

O Central Park, em Nova York, é um conhecido refúgio para casais apaixonados da cidade - e isso vale para pingüins! Roy e Silo, que já viraram até tema do livro infantil "And Tango Makes Three", são dois machos que foram inseparáveis por seis anos e atraíram a atenção de muitos turistas que iam ao parque. Chegaram a chocar uma pedra, até que cientistas lhes presentearam com um ovo de verdade, do qual nasceu a linda Tango. Contudo, em setembro de 2005, o site "Fox News" anunciou que Silo havia se encantado por Scrappy, uma fêmea recém-chegada do SeaWorld, de San Diego - e deixou Roy. Seria Silo um "bi"? De toda forma, o "casamento" que os dois viveram não é propriamente raro entre essas aves. Há pingüins "gays" - e, até o momento, fiéis - no mundo todo. Wendell e Cass, do New York Aquarium, estão entre eles, e, na cidade alemã de Bremerhaven, o zoológico conta com três casais homossexuais da espécie Humboldt, que rechaçaram todas as fêmeas que lhes foram oferecidas.

Beijos lascivos

O chimpanzé é apontado como o primata mais semelhante ao ser humano, mas, sobretudo, a subespécie dos bonobos é a mais inteligente e a mais próxima de nossos ancestrais. Os bonobos também são muito promíscuos e flexíveis sexualmente.As fêmeas mantêm relações homo e heterossexuais, geralmente na posição de "frango assado", a favorita. Os machos fazem brincadeiras de lutas e cócegas que evoluem para jogos eróticos: chupadas ou sexo grupal, com direito a carícias nos genitais e beijos de língua. Os bonobos também costumam se abraçar de frente, esfregando os pênis um no outro, sem ejacular, e "traçam" jovens e infantes - não existe a idéia de pedofilia entre eles! - mas, é claro, tudo só ocorre com o devido consentimento...