REPORTAGEM

Pegação por Bluetooth

Tecnologia de celular ajuda a encontrar parceiros sexuais em locais públicos

por Erik Galdino

Uns três anos atrás, eu tinha ouvido falar que, na Europa, as pessoas estavam usando Bluetooth para fazer “pegação” nos parques e shoppings – mas por aqui, na época, poucos celulares tinham a tecnologia, e, por isso, eu não entendia bem como seria o funcionamento desse sistema ultramoderno de encontrar sexo.

De lá para cá, os preços dos celulares caí¬ram, e as tecnologias foram incorporadas de modo que câmera, MP3 e transferência de arquivo passassem a ser comuns em todos os aparelhos. Foi aí que os brazucas, muito criativos, resolveram aderir à forma europeia de encontrar sexo rápido em local público – e sem medo dos seguranças nos banheiros!

Túnel do prazer

Em São Paulo, o metrô é um dos points dessa nova moda. Para conferir, segui a indicação de um amigo, daqueles que adoram pegar o metrô lotado, na hora do rush, só para ser encoxado – e constatei: sim, dá pra encontrar sexo usando o celular!

No primeiro dia, peguei o metrô paulistano na Linha 2 - Verde e segui, sentido Centro, até uma estação de integração. O basfond acontece principalmente em estações desse tipo, que interligam linhas diferentes do sistema, por possuírem um fluxo maior de passageiros.

Eram quase 19h quando chegamos. Ativei o serviço e mandei buscar outros celulares com Bluetooth funcionando. Na primeira tentativa, já apareceram “mlk 22anos” e “a fim 19cm”.

Pronto, era tudo verdade!

No entanto, como eu não estava preparado para consumar a “caça”, desliguei o celular e fui embora, prometendo a mim mesmo que, no dia seguinte, iria um pouco mais fundo na investigação.

Dito e feito. No outro dia, lá estava eu, na mesma estação. Liguei o celular, alterei minha identificação para “24a vers agora” e ativei o Bluetooth. O resultado não tardou: deixei alguns trens passarem e fiquei na plataforma por cerca de 15 minutos.

Foi o suficiente para receber nada menos que três solicitações de troca de arquivos. Aceitei todas. A primeira, vinda do “teen19pass”, mostrava uma bunda lisinha e, confesso, bem interessante.

O segundo arquivo, em contraste, mostrava um pau enorme, que devia ter 21 cm! A origem, o “dotado itaq”, certamente alguém que mora em Itaquera, bairro da zona leste de Sampa. Por fim, veio a requisição de “Moto K1” – alguém que não tinha trocado o nome do celular, mas enviou a foto de um abdômen de tirar o fôlego!

Em todo lugar

Não enviei arquivo para ninguém. Afinal, meu interesse era jornalístico: apurar se tudo não era uma “lenda urbana”. No entanto, eu queria saber se as pessoas vão realmente “até o fim”, em vez de ficar só na troca de arquivos. Pois bem. Encontrei duas fontes que, além de preferirem se identificar só pelos nomes de seus celulares no Bluetooth, dizem que chegam à reta final sempre que dá.

“Outro dia, estava aqui [NR: na estação em que fiz meus testes] e recebi a foto do pinto de um cara. Gostei e enviei uma foto da minha bunda, porque sou passivo. Ele retornou com uma foto do rosto. Achei razoável e enviei a minha. Depois de alguns minutos olhando em volta, eu o vi, já pegando no pinto e olhando pra mim. Pegamos o metrô, e ele foi comigo até minha casa”, conta “Br21aPS”, veterano no assunto, apesar da idade expressa no nick.

“Algumas vezes, acontece só um sarro dentro do próprio metrô. Você vê a pessoa, entra no vagão e um vai encoxando o outro. Isso acontece muito”, diz “gris 41 at”. “Mas já me dei bem”, continua ele. “Uma vez, um cara bem gostosinho, todo surfista, trocou mensagem comigo, mandou fotos e até um ví¬deo dele se masturbando. Como eu curti, mandei minhas coisas, e, no final, ele enviou uma foto, que, na verdade, era uma imagem em que estava escrito ‘me add no msn’ e o e-mail dele. Eu o adicionei e marcamos uma foda depois. Na verdade, nos encontramos duas vezes”.

“Eu ia trabalhar, era de tarde, e o ônibus estava vazio. Recebi a mensagem de que alguém queria me mandar um arquivo e recebi. Era um pau [...]. Logo depois, um cara, sentado no banco ao lado do meu, pegou no cacete e olhou pra mim, convidativo”, conta Felipe, ou “fezinho”, rapaz bonito, loiro e alto que comprova que a “caça” não está restrita aos subterrâneos do metrô.

Praia e aeroporto

A “caçação” por Bluetooth tampouco é uma particularidade de São Paulo. Nas praias do Rio de Janeiro e em aeroportos como os de Brasília e Salvador, as pessoas também já estão ligadas.

Estive em Salvador e, enquanto aguardava meu voo para São Paulo, resolvi ligar o aparelho e ver se aparecia alguma coisa. A maioria era de nomes das pessoas e dos aparelhos – mas, em uma das tentativas, apareceu o “afimdesexohxh”.

Já em Brasília, durante a espera de uma conexão pra Goiânia, encontrei, perto dos banheiros, o “mecomeAJU”, certamente algum passivo de Aracaju, e o “19cmpravc”.

No Rio, a orla, especialmente na área conhecida como “Farme”, é outro ponto forte de troca de arquivos. “Um dia, me falaram disso e resolvi ver qual era – e tem mesmo gente com nome de putaria”, conta o carioca “sarado27nocelular”. Como diria um antigo comercial: não é feitiçaria, é tecnologia!

 

No orkut No famoso site de relacionamentos, há uma comunidade com mais de 2 mil membros, a “Pegação com Bluetooth Sampa”. Lá, os participantes trocam informações, nicks, dicas e contam que usam o sistema também em shoppings e faculdades.

 

Manual de instruções - Não deixe seu próprio nome como identificação. Utilizar nicks sugestivos funciona melhor; - Mantenha arquivos de corpo e rosto, pois será através deles que as pessoas o identificarão; - Evite acessar nomes que não sejam explí¬citos. Caso contrário, você pode constranger uma pessoa e criar problemas;

 

- Lembre-se de voltar ao nome antigo do seu dispositivo, para evitar problemas com amigos, familiares ou até namorados.

Imagens: Reprodução