REPORTAGEM
por Marcos Piovesan
A prática do naturismo é algo sério. Sua filosofia defende um modo de vida baseado no retorno à natureza, com respeito ao espaço e ao próximo – e isso se reflete nas praias frequentadas pelos adeptos. “Sempre achei as praias naturistas mais tranquilas e sem muitas badalações”, conta o frequentador Mario Fernando*, 36 anos.
Saúde ao ar livre
O naturismo não é recente. Dados históricos comprovam que surgiu no início do século 20, na Alemanha e também na França. A prática atravessou o tempo, as proibições e as fronteiras. No Brasil, os primeiros encontros ocorreram em chácaras privadas, permitindo que os adeptos curtissem a natureza com liberdade.
Com o tempo, as praias se tornaram pontos disputados para a prática do naturismo, e o estado de Santa Catarina conta com belas opções. A cerca de 80 km de Florianópolis, existe, por exemplo, a Praia do Pinho, considerada a primeira praia de naturismo oficial do Brasil. Tem cerca de 500 m de extensão e é cercada por costões e montanhas com muita vegetação.
A praia é separada por áreas de solteiros e casais. Alguns anos atrás, tirar a roupa era obrigatório. “Hoje em dia, acho estranho as pessoas não precisarem ficar sem roupa [...]. Você está deitado na areia, pegando um sol, e vê o pessoal passando de roupa [...] e só olhando. Fica um pouco constrangido”, opina João, 30 anos.
No entanto, a falta de obrigatoriedade agrada outros frequentadores: “Quem gosta de tirar a roupa, nesse caso, são os exibicionistas, principalmente os que têm pica grande”, diz Renier, 45 anos. No que todos concordam é a beleza do lugar. “Muito bonito [...]. Você se sente tão bem [...] que ficar nu é algo extremamente natural”, comenta Jair, 50 anos.
Os corpos nus, no entanto, evocam outras sensações além da liberdade. A libido de muitos aumenta, e não é difícil flagrar beijos e olhares discretos rolando na areia. Por esse motivo, há praias naturistas conhecidas pelo público gay como locais para “caçação” – e foi nelas que baseamos a presente reportagem.
Voyeurs e exibicionistas
Em primeiro lugar, deixemos claro que a prática do naturismo não tem nada a ver com sexo. Tanto que, em algumas praias, há guardas monitorando o lugar para conter os excessos.
Mesmo assim, acontece pegação. Na Praia do Pinho, geralmente nas famosas “trilhas”, na parte de cima do local. “Quando você vê dois caras se pegando, logo começa a rodear mais gente, e rola a festinha”, diz Apolo, 40 anos.
O comportamento não é exclusivo de homossexuais. “Já vi alguns casais héteros se beijando na frente de todos, e a mulher discretamente masturbava o companheiro”, diz Luís, 35 anos. “Uma vez, nas trilhas”, conta Altair, 42 anos, “vi um casal de homem e mulher tocando o ‘foda-se’. A mulher deu pra quantos caras quis, enquanto o marido assistia ou chupava antes o pau do cara [...]. Cheguei também a ver uma mulher trepada numa árvore dando pra um cara ”.
Tiago, 45 anos, de São Paulo, frequentou a Praia do Pinho e também viu muita sacanagem por lá: “Os casais saíam da parte deles e vinham foder na parte dos solteiros”. Os frequentadores classificam esses casais – ou solteiros similares – como “exibicionistas”.
No entanto, um outro tipo de pessoa comum por ali são os voyeurs, que se excitam apenas observando. “A galera ia chegando pra bater punheta ao lado dos casais, e um ou outro entrava no meio deles. Também tinha os nativos, que apareciam do meio do mato, não sei como!”, continua Tiago.
Mário Fernando conta, rindo, uma experiência particular: “Pela manhã, conheci um cara nas pedras, e ele me disse que era casado. Comi o cara nas pedras mesmo, e ele adorou. Depois, foi contar pra mulher. Ela ficou tão excitada que me pediu que o comesse na frente dela [...]. Fiz o serviço, e ela bateu uma siririca só vendo”.
No entanto, apesar da grande quantidade de héteros, a frequência maior do público nessa praia é mesmo de gays, segundo Marcelo Fernandes, 36 anos, para quem “90% das pessoas lá eram homossexuais”.
Alternativa
A Praia do Pinho não está sozinha quando o tema é sexo ao ar livre. Em Santa Catarina, a Praia da Galheta, dentro do parque de mesmo nome, é naturista desde 1997 – e lá também rolam aventuras. “Achei o pessoal bem desinibido, sem se preocupar se tinha gente vendo ou não”, conta Salvador, 39 anos. O curitibano Apolo também esteve ali: “Tomei banho de sol, de mar, e passei o dia pelas pedras”, sorri. Paulo, 40 anos, já assistiu a homens transando na Galheta – e acabou participando. “Eu estava com meu ex, e transamos em três com outro”.
Um item muito comentado pelos entrevistados foi, infelizmente, o sexo sem segurança praticado nas praias. Nem todos fazem, é verdade, mas existe, sim, e bastante. “Vi tanto sexo seguro como pessoas fazendo suas estripulias sem preservativo”, conta Jefferson André, 40 anos.
Outro lado
Os naturistas defendem a seriedade das praias e afirmam que nem todos vão interessados em pegação. “Vi muita gente nua tomando sol, ou de sunga e biquíni, casais em liberdade e homens sozinhos, aproveitando o dia de sol e nada mais”, concorda Apolo.
“O comportamento varia muito”, observa Mário Fernando. “Tem dos mais quietos aos mais agitados, que [...] ficam mais nas pedras e nas trilhas, esperando a hora de dar o bote. Já fiz e vi de tudo em praia naturista, de tomar sol, aproveitar a paisagem e ver pessoas tomando suas cervejas nas trilhas até transar ao natural e presenciar surubas com 10 caras ou mais”.
Independentemente do ambiente estimulante, o que importa é que as praias naturistas, com suas belezas, proporcionam um grande prazer ao turista. Se esse prazer vier acompanhado de bundas e pênis, lembre-se: respeite os demais, atente para as leis e divirta-se com segurança!
* todos os nomes são fictícios para preservar identidades.