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CHUCA CHE TE FA BENE!

Um pouco de higiene antes do sexo anal nunca é demais. Só não abuse.



por Deco Ribeiro



“Clysterium donare, postoe seignare, ensuita purgare”. “Chuca”, sangria e laxante. Antes do século 20, esses eram os principais tratamentos para qualquer tipo de doença. Essa frase, em latim, foi dita por um personagem de uma das sátiras de Moliére, famoso autor de comédias do século 17, e ironizava o ensino de medicina da época.
E o que é a “chuca”, afinal? Para quem não sabe, ela também é conhecida como enema ou clister.
Trata-se de uma lavagem da porção final do intestino, afim de facilitar a eliminação de fezes, em casos de prisão de ventre, ou para administração de medicamentos.
É feita com a aplicação de água morna dentro do ânus, através de um tubo ou um aplicador de borracha (o clister, encontrado em qualquer farmácia). Depois, evacua-se o conteúdo no vaso.
Entre os homossexuais, a chuca também é usada como uma medida higiência, afim de evitar o “cheque”, vestígios desagradáveis de fezes que podem aparecer, sem convite, durante o sexo anal. Muitos usam a mangueirinha do chuveiro, e há até quem tenha fetiche na prática, o que recebe o nome de clismafilia.


Das areias do Egito

Essa história de enemas e laxantes vem desde o Egito antigo. Para os antigos egípcios, as fezes estavam diretamente associadas a doenças e à morte, e receitas de utilização aparecem em papiros de mais de 3.500 anos atrás.
Na época, havia até um médico pessoal de um faraó da sexta dinastia que ostentava em sua tumba o título de “Guardião do Ânus”. Provavelmente, era o encarregado de administrar a chuca em seu divino governante...
O hábito da chuca cruzou o Mediterrâneo rumo à Grécia e, no encalço de Alexandre, o Grande, espalhou-se pelo mundo. É conhecido o uso de enemas desde a Índia e a China antigas até os índios nativos das Américas.
A chuca praticamente alcançou toda a civilização sem se abalar, até o início do século passado.
A partir de então, a medicina se modernizou, e, por meio de comprimidos e outros tratamentos que privilegiavam a via oral, relegou o ânus ao ostracismo e ao preconceito.
Atualmente, a “chuca médica” se restringe a algumas aplicações no diagnóstico de problemas do cólon e algumas práticas naturalistas. Sua larga utilização (sem trocadilhos) ficou a cargo dos gays, que mantêm a tradição milenar.