Na época, ele era estreante – e eu, que estava presente no set, espantei-me com a naturalidade com que atuou em sua primeira cena, com Taygor Andrade. Principalmente, por ser uma cena de fetiche e dominação, com direito até a pissing.
Belo, desenvolto, aos 22 aninhos então, ele foi imediatamente convocado para um ensaio e se tornou recheio e contracapa da revista Sex Boys nº 22, ao lado do mais maduro e com zero por cento de gordura X Marcks.
Evidentemente, Fellipe foi chamado para fazer outras cenas para a Sex Boys e outras produtoras e criou um merecido fã-clube em torno de si.
Os anos se passaram, as vidas mudaram. Conforme os filmes ficaram mais rarefeitos, o agora ex-ator formou-se em Nutrição e seguiu uma nova carreira. Mudou-se para Ribeirão Preto, no interior paulista, e até casou-se com o namorado.
Hoje, de volta a São Paulo, aos 31 anos, mas ainda com cara de lolito, declara jamais ter se envergonhado de sua história no pornô – e, mesmo que seu casamento o tenha retirado temporariamente do mercado, ele voltou para nos revelar sua experiência e nos fazer encher os olhos mais uma vez. Vamos ver o que ele tem a nos contar?
Os amores
Boys Mania: Olá, Fellipe, boa tarde. Muito tempo se passou desde que você apareceu no pornô… E soube que você não tem gravado ultimamente. Qual sua nova profissão? E por que você deixou os filmes de sexo explícito?
Fellipe Marques: Tenho agora 31 anos – e hoje sou nutricionista e cozinheiro. O que me fez largar o pornô foi que eu tinha me casado havia alguns anos, e meu relacionamento não estava indo bem por causa dos filmes…
BM: Por que não?
FM: Ah, ele não aceitava o fato de eu ser ator pornô.
BM: Mas ele não sabia de seus trabalhos antes de começar o namoro?
FM: Olha, na verdade, na época em que o conheci, o mercado estava meio parado, embora eu ainda gravasse para algumas produtoras – mas ele soube, sim, só que no terceiro mês de namoro…
BM: Pode contar como aconteceu?
FM: Ele descobriu alguns dias antes de eu contar – e mudou comigo. Um amigo dele mandou um link para ele de um filme meu que estava na internet. Imaginei que seria isso. Então, resolvi contar. Ele me contou a história do link depois que eu revelei a verdade, mas hoje me arrependo de ter parado.
BM: Sei que é desconfortável perguntar isso, mas você tinha continuado a gravar, sem ele saber, naqueles três meses?
FM: Olha, eu penso da seguinte forma: é uma profissão digna, como qualquer outra. Só que o instrumento de trabalho é a exposição do nosso corpo. Não vejo traição nisso, mesmo porque não existe sentimento. Somente quem entrou um dia em um set consegue entender. Não contei por três meses porque queria ter mais confiança em poder falar – mas, nos três meses que eu ocultei, também não gravei.
BM: Então, realmente existe preconceito contra atores pornôs na hora de namorar…
FM: Acredito que sim. Muito. Já vivi preconceito, mas de pessoas que conhecia na balada e elas já sabiam da minha profissão. Um garoto, por exemplo, falou que me achava lindo, mas não ficaria comigo por causa da minha profissão. Por outro lado, também tem aqueles que já ficam doidos quando sabem que eu sou ator pornô… Deve ser fetiche. Acreditam que os atores pornôs, por serem atores, fazem bem [risos]. De verdade, o pessoal que não conhece um set de filmagem tem uma visão meio surreal sobre o assunto. Acredito que eles acham que atores pornôs são “megaexperientes”… De fato, somos, mas não tem comparação uma cena com o sexo na vida real.
BM: Quais são as diferenças?
FM: Bom, primeiro, uma cena tem várias pessoas no set, e nem sempre rola química com o parceiro. Na vida real, rola mais carinho, mais tesão, você se envolve mais – e nada é controlado: nem o tempo, nem as posições, etc. Em cenas, na maioria das vezes pra mim, rola apenas profissionalismo mesmo.
BM: Mesmo assim, já rolou química com atores, não?
FM: Ah, o Rafael Albuquerque é bom de gravar [risos]. Curto também o Yuri Bryan… O Erik Leony também é show [risos].
BM: Manteve amizade com alguns deles?
FM: Sim, com alguns, sim. Apollo Max, Jonathan Kawã, Rafael Albuquerque, Poax Lenehan, Andrey Andrade, dentre outros.
BM: E você? Namoraria um ator pornô? Com ele mantendo a profissão?
FM: Sim, namoraria, sem problemas, desde que mantivesse a minha.
BM: Nesse caso, devo entender que você não decidiu, afinal, parar a carreira de livre e espontânea vontade inteiramente? Se não fosse pelo relacionamento, não teria parado, correto?
FM: Não. Não teria parado. Parei porque estava apaixonado.
"Programando"
BM: Parece, então, que você gosta do pornô. O que teria atraído você à profissão?
FM: Olha, na verdade, eu conheci um garoto pela internet que gravava. Na época, não sabia que ele fazia pornô. Fui a São Paulo, eu o conheci e, numa boate, nos envolvemos. Depois disso, ele acabou me contando. A princípio, não aceitei a ideia, mas logo comecei a entender como funcionava um set. Pedi, então, que ele me agenciasse, porque, para eu ficar com ele, teria de ser ator pornô também, ou não aceitaria. Ele, então, me apresentou às agências e comecei a fazer fotos. Meu primeiro filme foi pela Sex Boys – Território Hostil. De cara, já ganhei um ensaio na edição 22, e começaram a aparecer muitos trabalhos. Até pensei que não fosse conseguir, mas, no meu primeiro filme, fui tão descontraído e tão natural, como se estivesse fazendo qualquer coisa, que descobri que eu não ficava inibido – e, como eu era novidade, isso fez abrir várias portas para mim. Tanto para programas quanto para outras agências.
BM: E foi bom para você?
FM: Ah, sim. Pelo menos, nessa área, tudo foi perfeito.
BM: Então, você também gostou de ser garoto de programa?
FM: Hoje em dia, não faço mais, mas eu não gostava, não. Não dá futuro.
BM: Agora, fiquei confuso [risos]…
FM: Na época, foi bom, porque eu não era conhecido e estava no ramo. Antes, eu era barman. Depois que virei ator, essas portas do programa se abriram, com propostas irrecusáveis, viagens, um bom dinheiro. Deu para viver bem na época, mandar dinheiro para minha mãe. Hoje, meu salário como cozinheiro é menor. Gosto de ser um profissional reconhecido nessa área, mesmo ganhando menos, mas antes, sim, vivia melhor.
BM: E qual a diferença entre transar como ator e transar como garoto de programa?
FM: No filme, você sabe com quem vai contracenar. No programa, você não tem ideia do que o espera. Pode se dar bem, pode se dar mal.
Reflexos do pornô
BM: Entendi. Assumindo, então, que os programas tinham apenas o lado bom do dinheiro e que você, a rigor, não gostava… Mas que gostava de gravar, o que era mais interessante como ator pornô?
FM: A popularidade, a mídia e o reconhecimento nas baladas, além, é claro, do status que fazer filmes me proporcionava. Gosto de mídia, gosto de fotos, gosto de ser reconhecido, tanto como ator e, hoje, quanto como cozinheiro. Na época dos filmes, dancei em saunas e fiz até despedidas de solteiros, acredita [risos]? Às vezes, rolava ainda o “bingo boy”. Era sorteado um para sair com o cliente da casa, e a sauna pagava.
BM: Essa mídia nunca trouxe problemas?
FM: Problemas, não, mas constrangimentos, vários [risos]. Uma vez, no metrô de São Paulo, logo quando saiu minha edição da Sex Boys, havia um garoto lendo a revista. A princípio, não percebi, mas estava em pé na frente dele. Quando ele chegou às minhas fotos, de repente, olhou para cima e, quando eu fui para a porta, ele me seguiu e me chamou “Fellipe”. Eu olhei, e ele começou a rir. “Cara, não acredito que é você: ainda mais no metrô”. Eu ri também.
BM: Pensando agora em outras carreiras, já que você se formou nutricionista. Ter trabalhado no segmento pornô nunca foi um receio, por algo que pudesse atrapalhar você em outros segmentos?
FM: Nunca pensei nisso… Hoje, vivo uma vida superboa. Mesmo em outra carreira, nunca tive represálias. A única coisa que me incomoda é que, quando estou na rua ou na balada, não sei se o cara está me olhando porque me achou bonito ou porque me reconheceu dos filmes [risos]…
BM: E você tem ideia de quantos filmes fez?
FM: Não [risos], mas sei que foram umas cinco produtoras diferentes.
Fetiches e fantasias
BM: Nos filmes, você faz ativo e passivo. Qual mais curte fazer?
FM: Eu fiz poucos filmes como passivo, na verdade. Não me sobressaio como passivo, nem em cena e nem na vida real. Tento. Quem sabe um dia [risos].
BM: Então, você não gosta muito de fazer passivo?
FM: Não mesmo. Fiz porque surgiu a cena. Topei. Acredito que quem está na chuva é para se molhar [risos].
BM: E do que você mais gosta de fazer no sexo em si? Quais são seus fetiches?
FM: Bom, como comentei, eu prefiro ser ativo. Além disso, curto muito as preliminares… Fetiches, eu curto caras que fazem autofelação [risos].
BM: Só esse [risos]?
FM: Somente. Já realizei muitos fetiches – chuva de prata, fisting, sado, mas o meu particular é este aí.
> Confira
aqui o ensaio de Fellipe Marques para a
Sex Boys.
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Boys Mania.
Imagens: Reprodução/Arquivo pessoal