MATÉRIA
por Deco Ribeiro
jornalista
Para mim, usar camisinha sempre foi uma questão mais higiênica até do que puramente preventiva. O reto não é exatamente o lugar mais limpo do mundo, não importa quantas chucas o indivíduo faça.
Se você não usar camisinha, seu pênis, depois da penetração, estará geralmente intocável: toca ir pro banheiro lavar, para só então voltar pra cama e continuar a brincadeira – toda uma pausa desagradável.
Já com a camisinha, é diferente: além do imprescindível fator proteção, quando você penetra, quem se “suja” é ela. Você a tira – e pronto: tudo limpinho. Na minha opinião, isso, por si só, já devia ser motivo suficiente para estimular o uso da borrachuda.
O caminho do prazer
Entretanto, vem o namoro, a confiança e, por vezes, o relaxamento no uso da camisinha. Pode surgir, então, uma doença de nome complicado – mas calma! Vamos chegar lá e explicar o que uma coisa tem a ver com outra.
Para isso, iniciemos com a anatomia genital masculina e de como cada parte dela age no momento do prazer máximo – um tipo de informação que não é propriamente comum entre os homens.
Por fora, o que você vê quando olha pra baixo é um pênis dotado de uma cabeça (glande) com uma abertura por onde sai a urina e o gozo – que pode ser cientificamente chamada de orifício urogenital: é a parte final da uretra, canal por onde passam aquelas duas substâncias. Logo abaixo do pênis, está o saco (escroto).
Agora, vem a parte interna. Dentro do escroto, existem dois testículos: são os órgãos que produzem os espermatozóides. Logo acima de cada testículo, há um epidídimo: é onde os espermatozóides ficam “guardados” até o momento de saírem pro mundo.
Quando esse momento chega, eles fazem um caminho que sai dos epidídimos e vai subindo pelos canais deferentes (um de cada lado). Esses canais circundam a bexiga e se unem no ducto ejaculatório, onde os espermatozóides são banhados por um líquido nutritivo secretado pelas vesículas seminais.
Já em plena descida, o composto chega à próstata, que segrega uma substância que neutraliza a acidez da urina e ativa os espermatozóides. É a soma dos espermatozóides com as secreções das vesículas seminais e da próstata que constitui o sêmen ou esperma – que, por sua vez, recebe uma mãozinha das glândulas bulbo-uretrais ou de Cowper, cuja secreção limpa a uretra, para onde o esperma segue daí em diante.
Ao terminar a decida pela uretra, por dentro do pênis duro, finalmente o sêmen sai pelo orifício urogenital com aqueles cobiçados jatos que conhecemos tão bem...
Tubos e novelos
Considerando a explicação anterior, dá pra entender a importância do epidídimo. Afinal, é lá que os espermatozóides ficam.
Cada epidídimo é, na verdade, um tubinho muscular todo enrolado em si mesmo, uma espécie de “novelinho de lã”, que, na hora “H”, também funciona como um “acelerador de partículas”: ele “acelera” os espermatozóides e os deixa com mobilidade para nadar pinto afora.
É uma tarefa altamente delicada e, por isso, muito sensível. Qualquer sujeirinha ali entope o tubinho e desgraça o processo todo.
Imagine agora seu pinto entrando em contato com coliformes fecais. Eles possuem bacilos ardilosos que seguem pela uretra rumo a esse novelinho delicado. Sim, pode infeccionar. É a epididimite.
Dá até para sentir quando algo está errado. Se você pegar seu saco entre os dedos, você sente o epidídimo, bem onde os canais deferentes tocam o testículo. É para ser molinho e indolor ao toque. Se estiver duro, é um alerta. Se estiver duro e doer, corra para o urologista. Se for em uma bola só, é epididimite. Se for nas duas, orquite.
Tratando e evitando
Se descoberta cedo, a epididimite/orquite é tratável, à base de muito antibiótico e repouso. Se descoberta tarde demais, pode até virar câncer – e os dois parceiros podem estar saudáveis da silva. Em boa parte das vezes, são os bacilos presentes nas fezes que originam o problema.
Certo, nem sempre. A infecção também pode ocorrer quando há refluxo de líquido da próstata para os testículos ou devido à presença de clamídia ou gonorréia, duas doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
Aliás, essas duas doenças são a maior causa de epididimite entre homens heterossexuais da adolescência até os 35 anos. Em crianças antes da adolescência, homens com mais de 35 anos e, principalmente, jovens homossexuais, a causa principal volta a ser bacteriana, volta a ser os coliformes fecais – ou por descuido na higiene (pênis em contato com as fezes na hora da limpeza) ou no sexo anal sem camisinha.
A inflamação e a dor da epididimite resolvem-se em duas a quatro semanas, se adequadamente tratadas. A doença se torna crônica quando fica muito tempo sem tratamento ou quando, mesmo tratando, a sensação e a dor voltam.
Nesse caso, podem se formar pequenas cicatrizes no epidídimio, o que pode provocar uma protuberância na bolsa escrotal. Exceto pela dor recorrente e pela ameaça de infertilidade, a epididimite crônica não é um problema sério de saúde, mas deve receber atenção.
Também é claro que praticar sexo anal sem camisinha não significa que você necessariamente vá ter epididimite – mas, diante da possibilidade de contrair DSTs e dessa outra infecção, para que correr o risco, não é?