ARTIGO

Em busca do homem ideal

No calendário brasileiro, junho é um mês especial. Afinal, é quando se comemora o Dia dos Namorados, e todos os casais trocam presentes. Tudo muito lindo - mas e quando a pessoa está "avulsa"?

por João Marinho

 

Para muitos, é uma verdadeira maldição – e tenho certeza de que o leitor conhece ao menos um ou dois que fazem de tudo para passar o dia 12 com alguém, não importa quem.

Do meu ponto de vista, esse tipo de atitude revela alguns problemas em nossa sociedade atual. Não é segredo para ninguém que, de uns anos para cá, conforme as tecnologias de comunicação avançam e a sociedade se torna mais diversificada e mais aberta à diversidade, parece crescer também um isolamento das pessoas.

É uma situação paradoxal, como tudo que é humano. A tecnologia tornou a comunicação mais rápida, mais abrangente e mais eficiente. Diminuiu distâncias, aumentou o contato entre os povos e, com isso, ajudou a abrir muitos corações a um respeito maior pelas individualidades e pelos direitos de segmentos até então estigmatizados, como os gays.

Entretanto, a busca por rapidez, eficiência e abrangência também chegou a outros portos. O tempo acelerou, e a correria diminuiu as ocasiões em que as pessoas simplesmente ficam em companhia umas das outras.

Por muitas vezes terem suas relações mediadas pela máquina, elas também parecem desaprender a se relacionar diretamenteentre si – e, como tudo acelerou, até os relacionamentos parecem perder o “prazo de validade” mais cedo.

Qual é a saída? Voltar ao que era antes, não é possível – e, se fosse, também não seria desejável. O modus operandida época de nossos avós, por exemplo, tinha seu lado bom, mas também o que era ruim.

Só para citar dois exemplos, as pessoas podiam parecer mais próximas, mas o controle social também aumentava, diminuindo o espaço para a expressão de individualidades e discordâncias e alimentando preconceitos.

Cada geração tem de lidar com seus problemas e desafios. A saída, portanto, está em detectar o problema, usar o que dispomos e propor novassoluções. Torna-se necessário criar novos modelos, novas formas de interação e sociabilidade e até novos valores, o que necessariamente passa pelo questionamento do status quo.

Como já disse antes, nós, gays, historicamente estamos numa posição de questionadores, pois os modelos que herdamos não foram criados para nós, não nos levaram em conta – e isso se estende aos relacionamentos.

Nada mais justo, portanto, que tomemos a dianteira. Antes de resmungar que “ninguém quer nada sério”, questione o modelo que você está seguindo. Por que ele é importante para você, que necessidades você espera sanar com ele? Elas não poderiam ser satisfeitas de outra forma? Será que o modelo não poderia ser alterado ou, no limite, substituído?

Muitas vezes, a solução não está em mudar o mundo, mas em mudar nossa atitude diante dele e saber usar o que ele oferece em nosso benefício. Por mais paradoxal (de novo!) que seja, talvez o homem ideal e o relacionamento ideal para você não sejam aqueles que você idealiza.


Publicado em 10/11/2011.