OPINIÃO

Eleições 2010 e o voto gay

Quando o internauta ler este artigo, faltarão alguns dias para o pleito do ano de 2010, que vai eleger deputados, senadores, governadores e o futuro, ou a futura, presidente.

por João Marinho

Faz parte da tradição da Sex Boys acompanhar de perto a política e, particularmente, as eleições. Afinal, é nesses raros momentos, quando escolhemos nossos representantes, que mais podemos nos fazer ouvir enquanto gays e enquanto cidadãos – inclusive para, quem sabe, diminuir o fosso que se estabeleceu entre Brasil e Argentina em 2010: lá, casamento gay com todos os direitos garantidos e apoio da presidente; aqui, nem mesmo a criminalização da homofobia, que se discute no Congresso desde 2001, sai do impasse no Senado.

É com desgosto que eu, particularmente, vejo muitos gays dizerem, de boca cheia, que "não gostam de política" – e se afastarem de qualquer discussão a esse respeito, que reputam como "perda de tempo".

Verdade que ninguém é obrigado a gostar da política que aí está, com dezenas de homens e mulheres envolvidos em escândalos de corrupção, outros tantos – felizmente – barrados pela Le

i da Ficha Limpa e, para nosso desgosto, com o poderio cada vez maior da bancada evangélica, verdadeiro entrave para a realização plena de um Estado laico, separado de convicções religiosas e que atenda a todos os cidadãos, a despeito de seus credos e dos ditames ultrapassados da Bíblia.

No entanto, a política, no seu aspecto puro, ligado à origem grega, polis – ou seja, a cidade-estado, onde viviam os cidadãos livres e iguais (politikos) –, está em tudo. Para o bem e para o mal, é por meio dela que calcamos direitos, que avançamos na igualdade e no respeito que é devido a qualquer pessoa. É por meio dela que decidimos nosso futuro enquanto país e dizemos para onde queremos ir.

Não é preciso gostar, mas é preciso se envolver – e não tem hora melhor para isso do que no momento de digitar o voto. Enquanto gays, escolher candidatos que nos apoiem passa a ser fundamental.

A revista Junior, em duas edições, conversou com alguns deles: Léo Áquila (PTB/SP), Maicon Nachtigall (PSOL/RS), Jean Wyllys (PSOL/RJ), Salete Campari (PT/SP), Sander Simaglio (PV/MG), Roberto Seitenfus (PSOL/RS), o ex-sargento que se assumiu na revista Época, Fernando Alcântara (PSB/SP).

Sites gays têm divulgado dezenas de notícias relacionadas aos candidatos a presidente e a governador. Daqueles que, como Paulo Bufalo (PSOL/SP), têm coragem de colocar um beijo gay em sua propaganda eleitoral, àqueles que, como Marina Silva (PV), se deixam levar por preconceitos religiosos, passando por outros, como Dilma Rousseff (PT), que fazem concessões espinhosas em busca do voto evangélico, ou outros ainda que, como José Serra (PSDB), se dão a autoria de programas de combate ao HIV/Aids idealizados por outras pessoas.

Na tentativa de conscientizar o eleitorado LGBT – gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais –, a ABGLT, entidade militante nacional, tem divulgado uma lista de candidatos que toparam aderir à campanha “Voto contra a homofobia, defendo a cidadania”.

Até o último levantamento, mais de 100 candidatos de 12 partidos diferentes – PC do B, PDT, PMDB, PPS, PSB, PSDB, PSOL, PSTU, PT, PTB, PTC e PV – tinham se comprometido, entre gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e héteros aliados.

A iniciativa da ABGLT pode ser uma bússola na hora de definir seu voto. Acesse a lista em www.abglt.org.br, menu Eleições > 2010, faça sua pesquisa independente e faça a diferença em outubro. Vamos parar de nos contentar com migalhas!


Imagem: Paroutudo.com (alterada)