CONTO ERÓTICO

Dupla e calor

por João Marinho

Era a terceira vez que eu estava ali. Sempre me perguntei por que razão – afora o sexo – as pessoas se dirigiam a um lugar tão quente. Afinal, mesmo o prazer físico podia e devia ser obtido em um ambiente com temperaturas mais amenas e, quiçá, mais confortável.

Foi, no entanto, com surpresa que me vi me tornando um frequentador: três vezes, afinal. Em parte, porque descobri que o vapor quente e úmido parecia favorecer as vias respiratórias, sempre tão agredidas pela poluição paulistana. Em parte, porque me sentia mais magro e desintoxicado depois da sauna seca... E, em parte, porque, sim, havia o atendimento exemplar e a lembrança de agora gloriosas experiências sexuais prévias, que guardo comigo, como um segredo que não revelo senão a poucos.

O estabelecimento – esse a que vou, e sempre limpo – não parecia estar muito movimentado naquele domingo: ao adentrar o espaço comunal, composto por dois sofás confortáveis, o balcão de atendimento e duas mesas de bar, vi apenas um rapaz do tipo falso-magro, pernas bem-torneadas e um sorriso que chamava a atenção, além do óbvio bartender, que também faz as vezes de garçom.

Ainda vestido, limitei-me apenas a olhá-los e fui direto para o vestiário, onde me despi, sem pudores, e assim permaneci durante todo o tempo em que guardava minhas roupas no armário. Ao contrário de muitos naquela sauna, que usam sungas embaixo da toalha que ganhamos à recepção, não tenho problemas com a nudez. Por mim, na verdade, mesmo andava nu; a toalha, mera convenção.

Foi, então, que o falso-magro apareceu à porta e, educado, decidiu me recepcionar. “Nossa!”, suspirou, ao ver meu corpo despido. “Boa noite”. Eu sorri e retribuí o cumprimento: “Boa noite!” – e me dirigi, com certo rubor e de pronto, à sauna seca, onde permaneci sozinho e suando por alguns minutos, uma perna estirada e outra levemente levantada, em triângulo, sugerindo meu sexo por baixo da toalha.

Diferentemente das outras vezes, no entanto, eis que entra um homem de cerca de 30 anos. Está acima do peso e ostenta uma pequena barriga, os pelos descendo fartos do peito até à parte de baixo da toalha. Diferente porque este me parece tão pudico quanto outros, e, com apenas alguns segundos, levanta a toalha e me exibe um membro já duro e levemente úmido, rodeado de uma floresta púbica – e me faz sinal para que me aproxime. Resisto por um tempo. Não sei exatamente o porquê, mas penso que é para “valorizar meu passe”. Entretanto, no fim, acabo me sentando ao lado dele, no outro extremo da sauna, já semiexcitado com a repentina situação.

Não há muito que ser conversado. Eu apenas miro o sexo intumescido, e ele, rápido, empurra minha cabeça para baixo até meus lábios tocarem a cabeça, como se houvéssemos ensaiado todo o movimento. Eu abro a boca e engulo tudo, o que não é difícil, posto que não é particularmente grande. O peludinho geme alto, e, então, ouço sua voz pela primeira vez. “Deixa eu te comer...”. “Não”, respondo, seco. Não podia e não queria. Não ali, não agora. Ele volta a insistir duas vezes, mas acaba aceitando de bom grado o que minha boca tem a oferecer, e nos divertimos assim por algum tempo, com a sauna seca toda para nós... Ou não...

Porque, em um movimento brusco, um rapaz negro entra.

Eu o observo, de esguelha. É bonito, cabelos totalmente raspados e corpo muito bem trabalhado. Ele nota e, após um pequeno momento de surpresa (entendo que ele não esperava encontrar aquele movimento ali, pelo menos não tão já), senta-se  em um dos bancos e assiste à “dança” entre minha boca e o sexo do peludinho. Em homenagem a nós, ergue sua toalha e inicia uma frenética masturbação.

Verdade seja dita, porém, o negro não se contenta muito tempo com o papel de simples espectador. Mesmo sem ser convidado, ele se aproxima, e, quando menos espero, traz uma vara grande e grossa em direção à minha face. Vendo que o peludinho não se opõe, mete-a na minha boca, sem pedir licença, e me faz engasgar. Minha ereção retribui a surpresa – e não posso mentir: uma parte de mim se sente realizada de dar prazer a dois homens ao mesmo tempo. “Quero te comer!”, diz ele, em meu ouvido. “Não”, respondo, com um leve sorriso, entre um e outro engasgamento. Por que raios todos querem me desflorar, e tão já? Prefiro revezar minha língua entre os dois membros tão diferentes no tamanho, na grossura e nos pelos em volta e, assim, me perco por alguns minutos – apenas o tempo suficiente para notar que a porta da sauna se abriu e que não estamos mais sozinhos os três.

O negro agora também exercita sua boca, em um gordinho liso, de feições jovens e safadas, que espreme o olho enquanto introduz seu membro absurdamente grosso entre os lábios igualmente grossos. Enquanto isso, somos os quatro observados por um outro rapaz, de barriga definida e que ecoa os barulhos de nossas salivas com suas mãos e seu pênis, que rivaliza em em tamanho e largura com o do negro, que ora agrado e que me oferece o do gordinho, como uma criança que divide um novo doce, que lambemos juntos.

Enquanto minha boca começa a dar sinais de cansaço por estar no meio de três homens, o rapaz de barriga malhada se aproxima e se oferece para ser o quarto.

Ele, porém, é diferente. Sem palavras, como praticamente tudo que transcorreu até aqui, exige mais exclusividade e quase procura me arrancar dos outros três, o membro extremamente rígido, imenso, forte e pulsante a abrir caminho por entre minha boca. “Deixa eu te comer”, escuto mais uma vez. Eu respondo não, mas já sem a mesma força de vontade, que parece afetada por ele. “Deixa, vai... Gostei de você desde a hora que chegou”. “Não quero dar hoje...”, respondo – e reconheço nele o falso-magro que me dera boa noite à minha chegada... “Deixa!”, e me puxa pra cima, me beijando acaloradamente.

Leva apenas alguns segundos. É o suficiente para pôr a camisinha, me virar de costas e devolver minha boca ao negro. Percebo, então, que fui sequestrado: eles são amigos. Em um esforço vão de recuperar minha vontade e fazer valer minhas decisões, peço ao falso-magro que vá devagar. Ele, certamente, não escuta, pois o negro abafa meus protestos, me engasgando, enquanto a carne dura do amigo entra fundo e dá espaço apenas para meus gemidos altos. O peludinho agora só assiste, e o gordinho liso se retira, excitado.

Envolvido pela dupla e sem ter como escapar, sinto um estremecimento em minhas entranhas. O falso-magro ejacula e joga a camisinha a um canto – e me puxa em direção a si em mais um beijo sôfrego, como que agradecendo. Eu o abraço, cansado e pronto para me retirar... Mas... Sou novamente enganado. Segurando-me nos braços delgados e torneados, o falso-magro agora abre as minhas nádegas. Olho para trás, e o negro está pronto para me invadir, já de camisinha (de onde surgem?). Novamente, não tenho como protestar. Dessa vez, é um beijo que me silencia, enquanto outro membro enorme vasculha e se delicia entre minhas carnes. Esbaforido ou ultrajado, agora o peludinho se retira, e sou deixado à dupla, e à minha própria sorte.

Finalmente, o negro chega ao êxtase... E, quando se retira de dentro de mim, sinto um leve ardor, como se meu corpo protestasse o esforço duplo e imerecido – mas eu estou feliz. Os dois me levam para os sofás na área comunal, e ali permanecemos os três, entre beijos, abraços e insinuações... Mal sabia eu que, ainda naquela noite, seria penetrado mais três vezes pelos amigos – que, então, se tornariam meus amantes.