ARTIGO

Cruising bars e sex clubs

Cada vez mais, a suruba entre homens se torna comum em nosso País. Do Oiapoque ao Chuí, há diversos clubes privados que promovem esse tipo de prazer. Estive em campo visirando alguns desses lugares - e também conversei com participantes de outras localidades para colher informação!

por Marcos Piovesan

Chegando a uma das casas escolhidas, faço meu cadastro na recepção e recebo uma chave para guardar minhas coisas no armário. O aviso na entrada é claro: não são permitidos garotos de programa, drogas e nem menores de 18 anos.

Rodízio de carnes

A divisão do espaço é relativamente comum a todos os estabelecimentos do gênero: há uma área como vestiário, com armários para guardar pertences; sala de vídeo; banheiros; bar; e quarto principal – normalmente, com pouca luz. Algumas casas possuem, na área principal, slings (balanços) pendurados no teto.

Sou logo informado que, naquela noite, não permitia o uso de roupa. O traje é o famoso bottomless – todos pelados, com botas, coturnos ou tênis, ou, no máximo, o uso de uma jockstrap, tipo de cueca aberta na frente ou atrás.

A regra varia de casa para casa. Em alguns clubes em que estive, é permitido, por exemplo, o uso de toalha, ou ficar com a camiseta, ou ainda com ela e com a cueca. Em outros, depende do dia: há noites específicas em que a nudez total é obrigatória. A dica: vale a pena ver o que está rolando no dia em que você pretende ir, porque muitas casas têm uma programação intensa, com festas variadas.

Quando entro no quarto principal, a sacanagem já rola solta. Homens nus se alisam sem nenhum pudor. Como tem muita gente no lugar, o rodízio é rápido, apesar de reparar que não são poucos os que preferem ficar apenas olhando, os famosos voyeurs.

Intrigado, converso com Carlos*, 35 anos, recepcionista do lugar, sobre a quantidade de pessoas: “Há noites em que a casa chega a receber mais de 150”, responde ele. “Não é todo mundo ao mesmo tempo: algumas pessoas chegam, logo gozam e vão embora”.

Marcelo, 32 anos, me comenta sobre o “rodízio de carnes”: “Bem, o que achei mais diferente é constatar como tantos – ou, ao menos, alguns – podem ser tão promíscuos (sic), tão doidos, a ponto de transar com quem nunca viram antes na vida!”.

Com tanta gente e tanto movimento, a manutenção e a limpeza são difíceis. Não é raro encontrar camisinha, papel higiênico e, principalmente, esperma espalhados pelo chão. Dica: cuidado onde você se encosta! Embora, verdade seja dita, em muitos estabelecimentos, as lixeiras ficam bem acessíveis, o que minimiza o problema.

Usar o banheiro também pode ser uma epopeia. Apesar da proposta do lugar, algumas pessoas não se sentem à vontade em transar na frente dos outros e acabam se fechando “no reservado”.

Os organizadores e frequentadores mais assíduos costumam ir contra essa prática. “Nunca fiquei constrangido num lugar desses. Acho até excitante transar na frente de algumas pessoas. Estamos na chuva, é pra se molhar... Mas, volta e meia, tem gente que prefere se trancar no banheiro”, reclama Edson, 36 anos. Dica: é melhor não dar uma de tímido...

Etiqueta sexual

Duas coisas me chamam a atenção nos sex clubs e cruising bars que frequentei: primeiro, todo lugar é passível de sexo.

Em certa ocasião, ao descer para tomar uma água no bar, logo percebo um cara sendo chupado ali mesmo. Pergunto ao bartender, que está nu e usa apenas uma gravatinha, se não dá um constrangimento presenciar isso. “Às vezes, dá é vontade de pular o balcão e cair na festa”, responde o safado.

Mesmo assim, e aí vem o segundo ponto, a etiqueta social é muito relevante. A frequência dos participantes é bem variada. Claro que alguns fazem o tipo lolito ou saradão, mas o mais comum é encontrar as famosas pessoas normais. Por isso, nem sempre todo mundo será do seu gosto – mas atenção: se a pessoa chegou em você, e você não curtiu, não se pode repelir de forma grosseira. Ser educado é uma regra básica. Dica: nada de fazer carão ou dar uma de esnobe!

Finalmente, e quanto às experiências dos frequentadores? As opiniões se dividem: alguns tiveram boas transas, outros nem tanto. “Há muitos passivos em tudo que é lugar. A maioria das vezes que frequentei o clube, não era diferente – inclusive, alguns bem-dotados que são um desperdício”, suspira Enrico, 42 anos.

Seu amigo Júlio, 38 anos, complementa: “Achei diferente também a frequência de alguns caras delicados, bichinhas mesmo! Não é a regra, mas pensei que ia encontrar caras ‘machos’, bem-dotados, mas nem todos são assim”. Pergunto a mim mesmo porque os mais delicados não poderiam, afinal, se dar o luxo de

frequentar esses espaços...

Marcos, 32 anos, é mais modesto nas expectativas: “Não vi nada diferente em se tratando de sexo, nem gente sendo fistada, nem dupla penetração, nem caras muito dotados... Mas também não basta só ter um pau grande: tem que saber usar”. Ao curioso leitor, sugiro que vá e tire suas próprias conclusões!

Sexo seguro

Apesar de saber que rola de quase tudo nesses lugares – inclusive, bareback – um dos aspectos interessantes é, no entanto, justamente a ampla adesão ao sexo seguro. Quando você chega à recepção, já recebe gel e camisinha. Como normalmente está sem roupa, a dica é guardar na meia dentro do seu sapato – assim não vai perder tempo. Afinal, o rodízio é grande, e não dá pra vacilar!

* Todos os nomes são fictícios para preservar identidades.


Publicado em 22/02/2011.