REPORTAGEM

Quer gozar?

Por dentro de um cinema de pegação!

por Deco Ribeiro

Quem nunca chegou atrasado ao cinema? Quem nunca precisou se esgueirar pela sala escura, todo mundo sentado? Bom, a sala escura, tudo bem – mas esqueça todo o resto, pois estamos falando de outro tipo de cinema...

Espaço democrático
Lá, a escuridão é eterna. Das 10h às 22h, os mesmos três filmes pornôs se repetem em sequência.

São filmes pornôs héteros. “Para agradar todo tipo de freguesia”, sou informado – mas homens héteros frequentam os “cinemas de pegação”, lugar aonde os gays vão quando querem sexo fácil? “Ô”, me respondem na entrada. São 16h...

Entre gozos e bonecas
Na tela, uma loira se farta de chupar a imensa pica de um negão – e geme, em inglês.

À minha frente, nas primeiras fileiras, um exército de homens se masturba ferozmente. A maioria está sentada nas cadeiras do meio, longe dos corredores, e mantém os olhos fixos na tela. Numa olhada geral, todos parecem ter entre 20 e 30 anos. São os héteros, interessados somente no filme.

Todos? Percebo que não. Alguns ficam mais perto dos corredores, atentos a quem passa – mas não procuram homens. É quando tenho minha segunda revelação: é pra lá que vão as travestis antes de anoitecer.

Meus olhos se acostumam ao breu, e percebo que grande parte das pessoas que andam entre as fileiras são bonecas.

De cadeira em cadeira, elas se aproximam e sussurram o convite ao pé do ouvido: “Quer gozar?”. Se quiser, sai por R$ 20, mas também fazem por R$ 10.

Enquanto eu alcanço um corredor e subo sala adentro, vejo uma travesti chupando um moço na primeira fila. Duas filas pra trás, um outro rapaz, sentado, masturba uma boneca, em pé. “Esses ‘héteros’...”, penso cá comigo.

Turma do fundão
Por um acordo silencioso, os “héteros” (restritivos ou não) ficam na frente e procuram ignorar os fundos da sala.

Isso porque, passando as cinco primeiras filas, o perfil muda completamente.

Agora, além de bonecas, há também homens cruzando os corredores, caçando. A “caça” são aqueles sentados nas cadeiras próximas à passagem. É clara a tensão sexual.

É o território dos gays, de todas as idades. Garotos, office-boys e estudantes, homens mais velhos – alguns idosos mesmo.

As travestis até tentam, mas poucos são os que topam programa. Ali, homem quer homem. Se há química, o que está andando arrisca uma conversa ou senta ao lado do escolhido, sem esquecer a “mão boba”.

Estando tudo bom para ambas as partes, os dois partem para as cadeiras do “meião”, mais afastadas do movimento.

Lá, percebo vários casais homo se pegando ou se chupando – às vezes, com uma pequena plateia de dois ou três que faz questão de acompanhar de perto o affair – mas o movimento todo se concentra nos fundos, e é pra lá que eu sigo.

Um imenso darkroom
Depois da última fileira, a escuridão é total. É o “darkroom” do cinema. Duplas e trios, em pé, tocam-se, as calças pelos joelhos. Apoiados na parede, uns fodem, outros são fodidos.

Descubro que, no canto esquerdo, há um banheiro, em escuridão ainda maior. Parece que uma ou duas cabines com tranca propiciariam um sexo mais reservado – para quem suporta o forte cheiro de urina.

Aproximo-me de um gostoso, o pau de fora. Ele dispensa todos que se aproximam, até que um puxa papo. Em segundos, vão os dois para o meio da penúltima fileira.

Ambos são interessantes, e me sento na última fileira, logo atrás. Mais dois rapazes me acompanham, um deles um motoboy com uma caixa daquelas de levar pizza nas costas.

Quando me dou conta, o gostoso está sentado. O outro, de joelhos entre suas pernas, mete com vontade. Cada estocada ameaça derrubar as cadeiras. “Vai quebrar”, sussura o motoboy, sem soltar o próprio pau e olhando, guloso, para o meu.

Conclusão
Depois da aventura, concluo que já vi o bastante e vou embora. Posteriormente, uma enquete pessoal com frequentadores de cinema pornô me faz acreditar que coisas semelhantes acontecem em todos: mesmo que os filmes sejam héteros, a frequência gay é maciça, e a “divisão geográfica” se repete.

É claro que há exceções. Há cinemas em que não há prostituição de travestis. Outros, cientes do interesse dos homossexuais, disponibilizam uma sala hétero e outra com filmes gays.

Seja qual for o cinemão, o importante é que eles não são os “antros” que eu imaginava. Por R$ 5 a R$ 10, até que tudo é bem divertido – mas vale lembrar: pratique sexo seguro e fique de olho em seus pertences.