SAÚDE
por Mario Calligiuri
Anualmente, cada vez mais campanhas são feitas para que as mulheres se previnam contra o câncer de mama, considerado o segundo mais freqüente no Brasil e uma das principais causas de morte entre elas.
Até aí, nenhuma novidade, certo? Entretanto, o que pouco se fala é que esse tipo de câncer não é exclusividade feminina: sim, ele também vitima os homens – e sua incidência vem crescendo nesse grupo...
Definição e tratamento
O câncer é uma doença que a humanidade conhece há muito tempo. Embora não mencionasse a palavra câncer, criada apenas muitos séculos depois, o chamado “Papiro Cirúrgico de Edwin Smith”, de origem egípcia, já descrevia oito casos de tumores ou úlceras – por coincidência, na mama. Datado de cerca de 1.600 a.C., esse papiro é o documento médico mais antigo do mundo.
Hoje, sob a denominação câncer, designamos um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos e podem se espalhar para outras partes do corpo de forma incontrolável.
Segundo a edição 64 da Revista do Conselho de Enfermagem de São Paulo, o câncer é uma doença “que tem origem numa alteração do mecanismo de divisão celular, causada por mutações genéticas do DNA. A maior parte dessas mutações é controlada pelo organismo, mas algumas ‘escapam’. Sucessivas mutações podem levar uma célula a se dividir e multiplicar desordenadamente e à perda de suas funções”. São essas células alteradas que chamamos de malignas.
No caso do câncer de mama, o crescimento desordenado das células se manifesta por meio do aparecimento de um caroço duro (tumor maligno), que cresce lentamente atrás do mamilo.
Assim como na mulher, no homem, o tratamento é principalmente cirúrgico. Uma vez diagnosticado o câncer em fase inicial, pode ser feita uma cirurgia para retirar apenas uma parte da mama, a quadrantectomia. No homem, geralmente, torna-se necessária a utilização complementar da quimioterapia.
Quando o câncer é descoberto tardiamente, entretanto, é necessária a retirada completa da mama. A descoberta do câncer em sua fase inicial implica na chance de cura de 80% a 90%. Em um estágio mais avançado da doença, a porcentagem cai para 10% a 20%.
Vale dizer, no entanto, que, apesar de ser o mesmo câncer, há algumas diferenças entre homens e mulheres que devem ser esclarecidas.
Câncer no masculino
Segundo o Diógenes Basegio, doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, o câncer de mama em homens sempre existiu. O que acontecia era que, na maioria dos casos, associava-se o surgimento do caroço a outras causas, erroneamente.
Basegio explica que há algumas particularidades desse câncer quando ocorre no sexo masculino. Diferentemente das mulheres, por exemplo, o câncer de mama vem sendo diagnosticado em homens acima de 55 anos – acredita-se que apenas 7% dos casos ocorram em homens com menos de 40 anos.
O fator genético é de suma importância. É fundamental saber se a mãe, irmã ou qualquer outro parente de ligação direta já teve câncer de mama ou de outro tipo.
Em relação ao número de casos, “nós calculamos que, a cada 100 mil homens, de 0,5 a 1% deles desenvolve o câncer de mama. Esse já é um numero preocupante, porque era um tumor registrado antes apenas em mulheres. Agora, a cada 200 casos em mulheres, um acontece em homem”, diz o Dr. Basegio.
Em um monitoramento realizado pelo Hospital do Câncer/Inca (Instituto Nacional do Câncer), verificou-se que, de 1991 a 1997, foram registrados 27 casos (3,9 por ano) de câncer de mama em homens. Parece muito pouco, mas é mais que o dobro do verificado entre 1979 e 1991.
Os números são semelhantes no resto do mundo. Uma pesquisa divulgada em 2004 pelo Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos revelou que, de 1973 e 1998, a incidência de tumores de mama em pessoas do sexo masculino cresceu, a cada 100 mil homens, de 0,86% para 1,08%.
Prevenção
Como em todas as doenças, a prevenção é a melhor arma. Embora, em se tratando de câncer, nenhuma prevenção seja 100% eficaz, algumas medidas podem ser adotadas para diminuir os riscos.
No caso do câncer de mama, medidas preventivas devem ser tomadas desde os 20 anos, idade considerada ideal para o homem começar a se cuidar e fazer exames de rotina. “É importante fazer o auto-exame apalpando a mama, assim como o exame clínico. Em alguns casos, a mamografia também se torna necessária”, diz o Dr. Basegio, que salienta que, pelo fato de o homem não ter seios, é mais fácil verificar a existência de um caroço por meio do toque. Deve-se também sempre ficar atento a feridas no mamilo, coceira e nódulos nas axilas.
Outras ações preventivas estão ligadas ao dia-a-dia: dieta com pouca gordura animal saturada (reduzindo a ingestão de carne vermelha), atividade física natural, manter o peso dentro do indicado e diminuir o nível de estresse.
Por fim, é importante esclarecer que não se deve confundir o surgimento de um tumor com o crescimento da mama masculina pelo acúmulo de gordura.
Não dê bobeira
Os cânceres de mama em homens infelizmente costumam ser diagnosticados tardiamente – e isso principalmente devido a uma certa negligência masculina para com sua própria saúde, o que pode acarretar danos irreversíveis.
Nesse século 21, cada vez mais técnicas são desenvolvidas visando a combater doenças. Portanto, é fundamental que todos sempre procurem seus médicos e façam exames de rotina. “Meu recado é para que os homens saibam que o câncer de mama pode atingi-los, que procurem os exames a partir dos 20 anos e tenham cuidado com a alimentação”, finaliza o Dr. Diógenes Basegio.