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A ocorrência do assédio moral é parecida. Geralmente, ele aparece no trabalho, entre funcionários de diferentes hierarquias ou mesmo entre colegas, e também numa brincadeira que ultrapassa os limites do razoável.
Só que, em vez de insinuações sexuais, a intenção do agressor é puramente sacanear a vítima, humilhar mesmo – e o que começa como uma brincadeira pode ter conseqüências sérias.
Segundo a pesquisadora Margarida Barreto, que, em 2000, defendeu uma tese sobre o tema na PUC/SP, no início, a vítima é apenas ridicularizada por seus colegas – mas estes, por medo do desemprego e vergonha de serem também humilhados, acabam reproduzindo as ações e atos do agressor, criando um “pacto de silêncio” no ambiente de trabalho.
Enquanto isso, a vítima vai perdendo cada vez mais sua auto-estima. Em alguns casos, a perturbação é de tal tamanho que a pessoa acaba até se sentindo forçada a desistir do emprego.
É claro que, para o trabalhador homossexual, o assédio moral pode ter origem justamente no preconceito e discriminação contra sua sexualidade. Felizmente, nesses casos, várias decisões da Justiça têm favorecido os trabalhadores discriminados.
Recentemente, ela deu ganho de causa a um marinheiro civil de uma companhia do Rio Grande do Norte. Soropositivo, o ex-funcionário alegou que a dispensa foi motivada por preconceito e foi indenizado em R$ 150 mil.
Segundo decisões de alguns Tribunais Regionais do Trabalho, se for comprovado que o trabalhador sofreu discriminação, agressões verbais e mesmo físicas por sua orientação homossexual no ambiente de trabalho – e nada for feito para evitar ou impedir isso –, o empregador responderá pelos danos morais, seja ele o causador do assédio ou não.
O que fazer?
Inicialmente, é importante levantar-se contra o assédio. Procure conversar com seus colegas e deixar claro que não está satisfeito com as brincadeiras.
Se a agressão partir de um superior, evite conversar a sós: tudo que você disser poderá ser usado contra você depois. Tente também ganhar a adesão de outros funcionários. O ideal seria procurar o agressor acompanhado de testemunhas ou mesmo de um pequeno gravador – documentar tanto o assédio moral quanto sua reclamação é essencial. Vale também enviar uma reclamação por escrito ao RH e solicitar uma resposta por escrito, com algum recibo de que sua carta realmente chegou ao destino.
Em muitos casos, só isso não resolve. Aí, é o caso de defender seus direitos: procure um órgão responsável e relate o ocorrido, de preferência fora da empresa.
Você pode procurar um advogado do seu sindicato, Ministério Público, Delegacia do Trabalho, Centro de Referência GLBT (se sua cidade possuir um) e até grupos gays. Setiver a gravação, melhor ainda!
Na Web, o site www.assediomoral.org traz outras dicas e informações. O importante é não ter medo e denunciar, mesmo se o fato aconteceu com outra pessoa. Lembre-se: o próximo pode ser você!