REPORTAGEM

Um presente de Vênus

A camisinha é algo que certamente já faz parte do seu vocabulário e talvez seja até “parte integrante” do seu pênis, se você for um tarado incorrigível – mas você já se perguntou de onde ela vem e por que ela existe?

por Graziele Marronato

O fato é que há muita discordância quanto à “origem” da camisinha. Há relatos de que os chineses foram os primeiros idealizadores de uma versão ancestral do preservativo, que nada mais era que um envoltório de papel de seda untado em óleo.

Já no Egito, utilizava-se objeto semelhante, mas confeccionado em linho e que servia a outro tipo de proteção – contra as picadas de inseto durante as caçadas.

Na época, não se pensava nesse tipo de prevenção às DSTs, e as mulheres egípcias preferiam usar como contraceptivos métodos menos ortodoxos e mais bizarros, tais como fezes de crocodilos (que, por possuírem pH alcalino, agiam como os espermicidas modernos, matando os gametas masculinos), gomas e uma mistura de mel e até bicarbonato de sódio.

Sobre cabras e homens
A cultura ocidental só tomou conhecimento da camisinha pelos gregos (sempre eles...), mais especificamente pelo mito de Minos.

Minos de Creta, filho do Deus Zeus e de Europa, é mais famoso pela lenda do Minotauro, mas seu comportamento mulherengo também lhe trouxe grande fama. Tanto que, diz a lenda, sua mulher, Pasiphë, fez um feitiço para que o monarca passasse a ejacular serpentes, escorpiões e lacraias, o que evidentemente matava todas as suas amantes...

Felizmente para Minos e infelizmente para Pasiphë, o rei foi salvo da maldição quando caiu de amores por Prócris, que introduziu em sua vagina uma bexiga de cabra em que todos os monstros ficaram aprisionados. Nascia assim a camisinha, e, a partir de então, Minos continuou as espalhar seu esperma pelo Mundo Antigo.

Trompas, ervas e luvas
Da Grécia Antiga à pela Idade Média, muitos séculos se passaram, até que alguém quis reavivar a ideia do uso da camisinha entre nós, simples mortais.

Foi quando, no século 16, o anatomista e cirurgião Gabriele Fallopio confeccionou algo mais próximo do preservativo que conhecemos hoje, tanto em termos de aparência quanto de uso.

Fallopio, que também é o cara que dá o nome alternativo às tubas uterinas femininas (trompas de Falópio), criou um forro de linho embebido em ervas. Segundo ele, era feito sob medida, o que nos leva a imaginar os respeitáveis senhores tirando as medidas do pênis com um especialista...

Mais tarde, Shakespeare batizou a invenção de “luva de Vênus”, que diz mais a respeito da função do preservativo, já que também servia ao combate contra as doenças venéreas – assim chamadas em referência às sacerdotisas dos templos de Vênus, que exerciam a prostituição como culto à famosa Deusa greco-romana.

Nomes diferentes, mesma utilidade
As inovações não pararam. No final do século 16, os preservativos de linho passaram a ser embebidos em soluções químicas precursoras dos espermicidas modernos.

Pelos anos de 1600 é que surgiu o primeiro preservativo de tripa de boi (!), criado pelo Doutor Condom, médico inglês que concebeu esse avanço científico em razão dos inúmeros filhos que o rei Carlos 2º da Inglaterra (1630-1685) estava trazendo ao mundo.

Aliás, é por causa do Dr. Condom que os falantes de inglês até hoje chamam de condom aquele instrumento que os ajuda na hora do tesão.

Já a expressão “preservativo” em si apareceu pela primeira vez nos anúncios das casas de prostituição de Paris, em 1780, onde se lia: “Nesta casa, fabricam-se preservativos de alta segurança, bandagens e artigos de higiene”.

Talvez a expressão não tenha colado muito e logo foi substituída por redingote anglaise, que quer dizer “sobretudo inglês”. Talvez chamar a camisinha de inglesa trouxesse mais credibilidade, afinal de contas, seu criador era um servo da rainha. Na França de hoje, no entanto, o termo “préservatif” é largamente utilizado.

As camisinhas se tornaram ainda mais populares durante a Guerra da Sucessão espanhola, também no século 17 e também com o objetivo de evitar doenças venéreas, principalmente a sífilis. Um artesão criou um preservativo de ceco de carneiro que se tornou sensação entre os excitados.

Tempos modernos
Até mesmo Charles Goodyear (ele mesmo, o dos pneus) teve participação no aprimoramento da camisinha. Em 1839, ele descobriu o processo de vulcanização da borracha, que consiste na transformação da borracha crua em uma estrutura elástica resistente.

O procedimento permitiu a confecção de preservativos de borracha, grossos e caros, mas com a vantagem de serem lavados e utilizados diversas vezes, até que a borracha arrebentasse.

Os últimos passos em direção à “evolução das camisinhas” foram o surgimento do preservativo feito de látex, em 1880, e posteriormente a camisinha com reservatório, em 1901.

Na década de 30, as camisinhas de látex adquiriram enorme popularidade e cerca de um milhão e meio de unidades foram comercializadas nos Estados Unidos, em 1935 – mas, ao longo do século 20, foram lentamente perdendo o status de santas protetoras dos casais que não usam o sexo como meio de reprodução, mas como um meio de prazer, graças à descoberta da cura da sífilis e, posteriormente, ao advento da pílula anticoncepcional.

Na década de 80, entretanto, o surgimento da Aids mudou o panorama. Toda proteção é pouca, e a camisa de vênus voltou a ser vedete, comercializada em vários tamanhos, cores e sabores. É só escolher a sua!


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