FETICHE

Tortura genital: vai encarar?

Para muita gente, a ideia assusta. Como pode alguém gostar de ser torturado no pênis e nos testículos? Pois bem: essas pessoas não só existem, como a prática tem um nome nos circuitos BDSM: é o CBT, cock and ball torture.

por Ferdinando Martins

Calcinha

Em bom português, isso significa que esses homens gostam de fazer coisas bem dolorosas com seus genitais – e é necessária uma boa dose de respeito à diversidade para entender esse grupo...

Superação

O bancário Cláudio é praticante do CBT desde a adolescência: costumava espetar pequenos alfinetes na parte de baixo da cabeça do seu pênis. “Ficavam algumas cicatrizes que demoravam meses pra desaparecer. A região ficava bem mais sensível e possibilitava que eu realizasse verdadeiras viagens sensoriais”, conta. Hoje, ele gosta de brincar com cordas ou pregadores. “Se deixar, eu prendo até 40 de uma só vez”. Dói só de pensar...

Para os iniciados, o CBT é uma modalidade mais radical do “C&B play”, brincadeiras não-convencionais feitas nos genitais. A tortura genital, no entanto, atinge níveis inimagináveis para a maioria das pessoas. “É um desafio. Quanto mais você faz, mais quer se superar”, diz Cláudio.

Por isso, quem começa com um ou dois pregadores vai aumentando até onde for possível. Alguns começam com anéis penianos (os cock rings), que envolvem o pênis a partir da base, atrás das bolas. Isso faz com que o orgasmo se torne mais doloroso ou até que a ejaculação volte para dentro do organismo.

Com o tempo, a sensação provocada não satisfaz mais, e o praticante quer ser apertado cada vez mais. Começa a usar cordas e coisas que prendem, ou então passa a colocar mais de um anel... Tudo isso para intensificar o prazer associado à dor.

O negócio é que sempre dá pra incrementar a sessão de CBT. Além dos objetos que prendem e espetam, alguns gostam de bater nos próprios genitais – em alguns casos, usando chicotes ou palmatórias. Não acredita? Digite “cock and ball torture” em sites como o X Tube ou o PornTube e confira!

Perigo à vista

Do ponto de vista clínico, o CBT pode ser perigoso para a saúde. O problema mais comum é o priapismo resultante de anéis ou cordas muito apertadas. O pênis fica tão duro que não amolece naturalmente, precisando de intervenções clínicas.

Segundo a Dra. Mariuccia Marciano, outro perigo é pegar alguma infecção, especialmente quando são usados objetos perfurantes. “A pessoa precisa estar consciente desses riscos [...]. Por isso, se o fetiche for atraente demais para corrê-los, é bom começar devagar, até que você saiba o quanto pode suportar. Se a dor começar a se espalhar por outras partes do corpo, ou durar muito tempo depois que a tortura acabar, é porque o praticante já está no seu limite”.

Marciano recomenda que um médico seja procurado o mais rápido possível se for notada alguma irregularidade: “Somente um profissional será capaz de diagnosticar possíveis danos, que podem se tornar permanentes”.

É claro, evite qualquer prática que puxe violentamente ou torça os genitais, devido aos ligamentos e vasos sanguíneos – mas o pênis e as bolas podem suportar chicotadas bem leves, assim como tapas leves (logicamente que feitos com cuidado).

Bondage em pênis e bolas pode ser feito com tiras de couro, cintas, cordas de veludo, etc. Decore como você quiser, mas não espere que o bondage peniano e das bolas mantenha o pênis ereto indefinidamente; ele provavelmente vai relaxar se não for estimulado, e o bondage que irá mantê-lo ereto pode se tornar perigosamente apertado. Em qualquer caso, esteja certo de que você pode remover tudo rapidamente.

Autopunição ou hipermasculinidade?

Mas por que será que tem gente que gosta disso? A resposta varia. A psicanalista Cátia Oliveira, no entanto, afirma que há um componente de autopunição no CBT. “Consciente ou não, a pessoa pode estar se punindo em algum nível. É como se procurasse um prazer impossível”.

Além disso, Oliveira acredita que o CBT é uma modalidade de castração. “O praticante pode estar negando para si mesmo uma parte de seu corpo associada à masculinidade [...], o que imaginariamente acabaria com a angústia atrelada a tudo mais que envolve ser homem em nossa sociedade”. Outra possibilidade de interpretação, segundo ela, vai a outro extremo: a hipermasculinidade: “É como se a pessoa dissesse: sou tão homem, tão macho, que aguento qualquer coisa”.

Quer experimentar? Siga seu desejo, tome os devidos cuidados e escolha o que pode dar mais prazer por mais tempo. Tudo com responsabilidade e amor próprio.


Publicado em 20/12/2011.