ARTIGO

A droga pop

Poppers: conheça a droga que é popular entre gays - e descubra o porquê.

por Deco Ribeiro

Se você é gay, já deve ter ouvido falar em poppers, ou, no mínimo, já viu alguém usando, principalmente em saunas, darkrooms e sex clubs. Já entre héteros, a droga passa praticamente despercebida. Por que será?

O que são

O motivo é simples: poppers são a droga do sexo anal – mas não foi sempre assim. O “nome oficial” dos poppers é nitrato de amila, mas pode ser de butila ou isobutila também.

Trata-se de um produto químico da família do éter que já foi usado por décadas no tratamento da angina (dor no peito) e outras doenças coronarianas, além de antídoto ao envenenamento por cianeto.

Mais recentemente, a substância foi também usada como aditivo de motores, em desodorizadores de ambientes e até como limpador de peças de couro e em cabeçotes de aparelhos de videocassete. Por causa dessa variedade de usos, sempre foi relativamente fácil de ser encontrada. Nos Estados Unidos e na Europa, encontrava-se poppers em qualquer lugar.

Por volta dos anos 70, o líquido popularizou-se também pelo “barato” que provocava ao ter seus vapores inalados. Sim, lembra o lança-perfume ou o loló, o solvente, a cola de sapateiro...

No entanto, o sucesso dos poppers está mesmo nos efeitos colaterais para além da “onda”: a droga promove ereções mais potentes, relaxa a musculatura anal, facilitando a penetração, e, dizem, é responsável por poderosos orgasmos. Existe droga mais “gay”?

Como funcionam

Tudo isso acontece porque os poppers causam o relaxamento dos músculos ao redor dos vasos sanguíneos, acelerando o coração para bombear mais sangue.

Resultado: o sangue fica mais rico em oxigênio, e esse oxigênio, ao atingir o cérebro, causa sensações de euforia e tontura. Ah, e como as regiões anal e vaginal possuem muitos vasos, são relaxadas quase que por inteiro. O produto também provoca anestesia, calor intenso e até alucinações.

No entanto, tudo é muito rápido: os efeitos duram entre um e dois minutos apenas. Isso faz com que os poppers sejam consumidos, muitas vezes, em pleno ato sexual.

Quem usa

“Adoro dançar. A música fica mais forte. É como se fosse um soco na cabeça que dura alguns instantes”, relata Wagner*, 24 anos. Ele conheceu a droga na internet, onde existe vasta informação sobre o nitrato de butila (o mais usado hoje) e até grupos que trocam informações e marcam festinhas de sexo grupal regadas ao líquido. Segundo os usuários, a droga seria essencial para quem pretende ser fistado (ou seja, ser o passivo no fist fucking) ou duplamente penetrado.

Lucas*, dono de uma comunidade dedicada aos poppers, deixa claro: a comunidade é apenas para o contato entre usuários, e não para fazer comércio da droga. “Mas usar não é proibido”, afirma.

Riscos

Além da queda na pressão sanguínea, a vasodilatação pode causar taquicardia, dores de cabeça, vertigem e, a longo prazo, perda de ereção. O contato direto do líquido com a pele causa irritações e manchas, e o uso constante pode prejudicar as mucosas do nariz e pulmões. Os poppers também debilitam o sistema imunológico por vários dias após o uso e, como abrem os vasos sanguíneos, facilitam infecções, inclusive de doenças sexualmente transmissíveis.

Nos Estados Unidos, muitos acusam os poppers de terem sido os principais responsáveis pelo avanço da aids entre gays nos anos 80 – tanto por suas características entorpecentes, que levam a um maior comportamento de risco, quanto por seu efeito debilitador.

O uso constante também pode levar ao vício, uma vez que o corpo gera tolerância à droga e começa a exigir doses cada vez mais elevadas para produzir o mesmo efeito. Isso por si só já eleva os riscos, já que não há o menor controle de qualidade na produção dessas substâncias para uso recreativo.

Uma overdose de poppers é caracterizada por náuseas, vômitos, fadiga, fraqueza muscular, dores estomacais, queda súbita da pressão circulatória, tremores, sentimentos de medo, solidão e culpa, paralisia dos nervos cranianos e periféricos, delírio, perda de consciência, coma e morte por síncope cardíaca.

Aspectos legais

Além dos riscos à saúde, há o perigo de ir em cana: o nitrato de amila, por exemplo, é uma substância controlada pelo Exército brasileiro e é até banido em alguns países, por ser altamente volátil e inflamável.

Seu comércio geralmente é considerado tráfico de entorpecentes pelas polícias, já que se trata de um alucinógeno que age diretamente no sistema nervoso central e pode levar à morte.

No entanto, os poppers ainda são considerados uma droga nova e pouco conhecida por aqui. A primeira apreensão no Brasil ocorreu em 2006, em São Paulo, e se deu através do monitoramento de certas comunidades de usuários e adeptos na internet, onde podem ser encontrados livremente, a despeito das restrições. Em suma, fique esperto – e camisinha sempre!

* Os nomes foram trocados para preservar as identidades. O site Sex Boys não apoia o tráfico ou o uso de drogas ilegais e/ou a prática de sexo inseguro.


Publicado em 09/06/2011.