ARTIGO

Moda masculina

Observar homens é algo que faço com gosto, especialmente em tempos como estes, em que a figura do macho-alfa não só está em xeque como anda bem "demodê"...

por Paula Brandão

Michael

Todo esse caldeirão torna a observação divertida, já que todos têm especial talento para se embananar quando mudanças de comportamento e filosofia de vida exigem algum “upgrade” ou revisão.

Tenho a desconfiança de que a ala masculina tem e ainda terá enorme dificuldade em adaptar-se a novos conceitos e formas de expressão alternativas. Entre elas, a moda.

Nem estou fazendo alusão a ousadias fashion, mix de referências e quebra de tabus, que, por incrível que pareça, ainda rolam até em questões menores, como a eterna birra dos rapazes em relação a nuances rosé.

Infelizmente, o conceitode vestimenta masculina está arraigado em funcionalidades simplórias. Serve para cobrir o corpo e ponto final. Nada de recortes, de mostrar o que não precisa, de expor o que nunca foi exposto... Uma chatice só!

Parece faltar aos marmanjos o “insight” que ocorre às mulheres: que moda é um canal de posicionamento indireto e bastante estratégico. A partir do dress code, podemos pressupor uma série de informações que, ao contrário do que pensa a maioria, é, sim, bastante útil.

Roupa gay?

Um homem que, por exemplo, usa camisa com abotoaduras é alguém com demandas diferentes de outro que se satisfaz com uma camisa social clássica. Podemos definir, a partir desse detalhe, a forma como cumprimentaremos cada um deles, a linguagem que escolheremos para nos reportar e até mesmo o que o sujeito deseja ou espera ler, ver e consumir.

No entanto, esse exercício só se legitima a partir do momento em que o senhor das abotoaduras não se importa com o que pensarão dele por adotar um modismo que para muitos “cheira a naftalina” – e, no meu entender, cheira a personalidade.

Além dessa limitação básica, o caretismo na moda masculina experimenta outra poda: o temor de alguns héteros – e mesmo de alguns gays – de que a experiência com peças, padronagens e cortes com propostas menos ortodoxas, como sobreposição de estampas, calças saruel ou o uso de alguns calçados sem meia, possam deixá-los com um quê “gay demais”.

O que me revolta é que não há “roupa gay”. Existe roupa bacana e roupa careta. Entre arriscar-se e manter a linha, muita gente tem escolhido covardemente manter a linha, e não raro de forma cafona.

Ecos do exterior

Voltei recentemente de uma viagem à Itália e me impressionei com a inteligência de moda do homem italiano. Os adolescentes andavam pelas ruas de Roma trajando polo, bermuda cáqui, muitas vezes saruel, cinto de corda e tênis retrô sem meia.

O cabelo, aquele desarrumado feito diante do espelho. Irresistível! Não consegui notar se um ou outro era gay. A moda masculina ali me trouxe inspiração. Os romanos vivem a moda como a experiência que ela deve ser: intensa, criativa, ligada à personalidade. Por isso, tudo soa tão natural, tão despretensioso e refinado ao mesmo tempo. No Brasil, aqueles meninos causariam crises existenciais em muitos.

Avaliando, acredito que os italianos praticam a moda como um esporte ou um treino de academia: compreenderam suas vantagens e se empenharam em desvendar formas e conquistar a melhor performance.

Por essas e outras que eu, se acordasse homem amanhã, trataria de melhorar meu relacionamento com o closet. Investiria pesado na fomentação de um estilo próprio. Com essa onda de customização, por sinal, vale a pena começar a tornar sua figura um produto único, no melhor estilo edição limitada. Vale a pena, sim, sair da caretice!



Publicado em 12/07/2011. / Créditos das imagens: Reprodução.