REPORTAGEM

Os gays e o esporte

Apesar do preconceito, esportistas homossexuais têm saído do armário com cada vez mais frequência

por Ferdinando Martins e João Marinho

Michael

A combinação gays + esportes não é recente. Em épocas mais repressivas, quando o acesso à imagem de corpos sarados não era tão fácil, eram as competições esportivas que atraíam quem quisesse ver bíceps avantajados, barrigas-tanquinho ou saliências na sunga.

Hoje, muita coisa mudou, mas altas doses de adrenalina, sensualidade e espírito de equipe ainda atraem gays para o esporte. Há, inclusive, duas olimpíadas organizadas para esse público – os Gay Gamese os OutGames.

A última edição dos Gay Games ocorreu na cidade de Colônia, Alemanha, em 2010. A próxima, em 2014, será realizada em

Cleveland, Estados Unidos. Já os últimos World OutGames tiveram lugar em Copenhague, Dinamarca.

Também há competições locais específicas, como o Torneio Internacional de Vôlei LGBT, que ocorreu em janeiro de 2008, em Santiago, no Chile, e – tcharam! – em 2009, no Brasil, com partidas realizadas em Santo André (SP) e em São Paulo.

Ainda que lentamente, também tem aumentado a quantidade de atletas homossexuais que saem do armário no mainstream. Se, de um lado, há casos de homofobia explícita, como o de Luciano Moggi, ex-dirigente do Juventus de Turim, e o péssimo comportamento da torcida do time de vôlei Sada/Cruzeiro, que humilhou o jogador Michael, do Vôlei Futuro, há exemplos históricos e recentes.

Um deles é o próprio Michael, que não se calou e ainda recebeu apoio da torcida e do time do Futuro em Araçatuba (SP). Vale citar igualmente o saudoso Lilico, também do vôlei, pioneiro e que não se escondeu.

Pioneirismo

Por falar em pioneirismo, não podemos deixar de fora o nadador canadense Mark Tewksbury, primeiro atleta olímpico a sair do armário. Mais do que isso: tornou-se militante e promove esportes para LGBTs.

Tewksbury, que, em 2006, tornou-se um dos diretores dos OutGames, é um homem bonito, ganhador de três medalhas olímpicas e recentemente foi nomeado chefe da missão canadense para os Jogos de Londres, que acontecerão em 2012.

Em 1998, ele declarou publicamente ser gay, o que causou comoção no meio esportivo. “Eu estava cansado de fingir ser o que não sou”, disse ele em entrevista ao jornalista João Marinho, da Sex Boys. O fofo já escreveu dois livros.

Sobre o impacto na carreira, Tewksbury afirma que não dá para dizer que não houve: “Eu tinha um contrato de patrocínio com um banco que me impedia de manifestar minha homossexualidade [...]. Perdi alguns amigos, mas outros me apoiaram”.

Matthew Mitcham

Peixes fora d'água
Outros atletas das piscinas se assumiram, como o australiano Matthew Mitcham, 23 anos, medalista olímpico de salto ornamental, que afirmou gostar de homens em uma entrevista para o jornal Sydney Morning Herald. Além do peitoral, o que chamou a atenção foi o fato de que ele ainda estar na ativa.

São raros os casos de atletas que se assumem nessa condição. A maior parte o faz apenas ao anunciar a aposentadoria. A título de exemplo, basta mencionar que, nas penúltimas Olimpíadas, em Atenas (2004), só 11 atletas saíram do armário entre os mais de 10 mil competidores!

Além de Mitcham, as piscinas olímpicas quase nos deram os nadadores norte-americanos Andrew Langenfelde e Brian Jacobson. Eles chegaram a participar das classificatórias para Pequim, mas não conseguiram o índice. Langenfeld chegou até a namorar um colega de equipe. “A natação é um dos esportes que mais aceitam atletas gays”, afirmou para o site OutSports.com.

Ken Ryker

Até as bolas

Levando-se em conta a postura muitas vezes homofóbica de seus atletas, treinadores, dirigentes e torcedores, é de se pensar que o futebol – esporte do caso mais recente de atleta assumido, o sueco Anton Hysén, 20 anos, do Utsiktens BK – seja o ambiente mais hostil para um gay.

Não exatamente.  Existe até a International Gay and Lesbian Football Association (IGLFA). A Federação já realizou dezenas de campeonatos internacionais. O último, em Copenhague, contou com equipes de cinco países. Há também competições locais.

Terra brasilis

Um dos mais importantes remadores históricos do mundo é brasileiro e gay: Arnaldo Adnet, que formou dupla com Artur Feighelstein. Os dois se conheceram na Rua Farme de Amoedo, ponto de encontro gay carioca. “Fui o primeiro membro da América do Sul a me filiar à GLRF [Gay and Lesbian International Rowing Federation (Federação Internacional Gay e Lésbica de Remo)], em 2004”, diz Adnet.

Aliás, o Brasil já teve edições de olimpíadas regionais em lugares tão diversos como Manaus e Florianópolis. Em geral, elas ocorrem nas semanas de Paradas do Orgulho LGBT. Já temos até o nosso CDG Brasil – Comitê Desportivo GLS. Vale a pena visitar o site: cdgbrasil.org.

 

Legendas
1- Michael, jogador de vôlei do time do Futuro.
2- Mark Tewksbury, nadador.
3- Matthew Mitcham, medalista olímpico de salto ornamental.
4- Andrew Langenfeld, nadador.
5- Anton Hysén, jogador de futebol.
 


Publicado em 17/05/2011. / Créditos das imagens: Reprodução.