ARTIGO

Slash fiction

Sabe quando você vê um filme cheio de homens lindos e os imagina tascando um beijaço? Dos anos 70 até hoje, de Jornada nas Estrelas a Crepúsculo, de Stephenie Meyer, fãs de séries de tevê, filmes, livros e quadrinhos produzem histórias homoeróticas com seus heróis – e fazem disso uma arte.

por João Marinho

Esse tipo de literatura chama-se slash fiction, ganhou destaque na internet e estrutura-se, normalmente, como conto ou romance – o que não significa que não existam ilustrações.

A slash fiction não tem regras rígidas quanto ao conteúdo, e os personagens não são necessariamente divididos entre ativos e passivos, ao contrário de outra arte homoerótica bem famosa e aparentada: o yaoi.

Beije-me, Sr. Spock
Os primeiros contos slash teriam surgido entre mulheres fãs de Jornada nas Estrelas (Star Trek), que criavam histórias (fan fictions) narrando encontros ardentes entre o capitão Kirk e Sr. Spock. Para Jenna Sinclair, autora de um artigo sobre o tema, a ideia surgiu na Inglaterra, no final de década de 60.

Segundo ela, há histórias “pré-slash” de Jornadas escritas e publicadas entre o final dos anos 60 e início dos 70 no Reino Unido. Mediante trocas de correspondência, o conceito teria passado para os EUA, onde germinou.

Lá, a primeira história slash teria sido “A Fragment Out of Time”, publicada no fanzine (tipo de revista feita por fãs) Grup III, em 1974. Em 1976, a escritora Gerry Downes publicava Alternative: The Epilog to Orion, o primeiro fanzine exclusivamente slash, enquanto Leslie Fish estreava, no fanzine Warped Space 20, o primeiro conto estruturado (short story) no novo estilo.

Por que “slash”?
Em inglês, “slash” é o nome desta barra: /. O gênero passou a se chamar assim porque os nomes dos heróis que formam casais são separados por ela.

Quando a slash fiction surgiu, já havia histórias identificadas dessa forma em relação a Kirk e Spock (“Kirk/Spock”), que abordavam apenas a amizade entre ambos.

Para diferenciar, a solução foi usar as siglas dos nomes (“K/S”). Ainda hoje, os casais gays das slash fictions costumam ser identificados por siglas.

Língua slash
Heróis de qualquer produção (seriados, quadrinhos, filmes, etc.) podem figurar em histórias slash. É claro que hoje, com o sucesso de Crepúsculo (Twilight), que, em breve, estreará o segundo filme, Lua Nova (New Moon), no cinema, um dos tipos de slash fictions mais procurados tem sido os que envolvem os vampirões da saga, como Emmet, Jasper e Edward – até separamos alguns links a seguir. Harry Potter também tem sua popularidade garantida.

 

Antes do texto, é comum incluir um aviso sobre o conteúdo, acompanhado de uma lista – a classification – com identificação do casal, mediante siglas que podem ser convencionadas pelos fãs, classificação etária (geralmente, no sistema norte-americano, mas podem ser outros), capítulo da história e informações sobre práticas sexuais, também na forma de siglas. Vejamos algumas:

  • UST (unresolved sexual tension) : forte tensão sexual ou romântica que não resulta em uma relação amorosa ou sexual concreta;
  • B&D, B/D, bd (bondage and domination) : “jogos de controle” consensuais e sem dor;
  • S&M, S/M, sm (sadism and masochism) : os jogos têm dor e humilhação;
  • NC (non-consensual) : sexo sem consentimento, estupro;
  • H/C (Hurt/Comfort) : um dos personagens se machuca, física ou psicologicamente, e o outro o consola ou cuida dele;
  • PWP (“plot, what plot?”) : só sexo puro e simples.

Para os fãs de Crepúsculo, aí vão três links (em inglês) para ler e se deliciar com os charmosos vampiros enquanto nos preparamos para assistir a Lua Nova:

community.livejournal.com/twilight_slash
twilightfic.tripod.com
www.thingsmadeofawesome.com


Imagens (inclusive a ilustrativa em capa.php): Reprodução/Divulgação