FETICHE

Gordurinhas na moda

Em algumas épocas e culturas, ter uns quilinhos a mais era sinônimo de sucesso e aceitação. Atualmente, vivemos a famigerada “ditadura da estética”, mas, muitas vezes, os gordinhos competem de igual para igual com os magros e malhados.

por Vides Júnior

Não dá para dizer ainda que o culto ao corpo perfeito esteja chegando ao fim, mas, saindo pra balada em São Paulo, por exemplo, você tem a impressão de que os gordinhos estão se assumindo mais e, conseqüentemente, aparecendo mais.

Embora a “ditadura da estética” esteja bem viva, a verdade é que, nas relações gays, os gordinhos têm uma chance a mais de se darem bem num relacionamento, dado o grande número de admiradores que possuem – e, com o advento dos ursos, todos os gordinhos pegaram carona na moda dos grandões, e, para muitos homens, eles estão na crista da onda.

Gostosos demais

Para esses, os gordinhos saíram da “prateleira” dos gêneros fetichistas para a dos amantes convencionais. Muitos nem fazem diferenciação na hora da paquera.

Alfredo, 26 anos, tem 1,80 m e 95 kg. Conta que já foi mais difícil ser gordo. Ele enumera as dificuldades em encontrar roupas, ser aceito pela turma e encontrar um paquera – mas diz que hoje é bem mais fácil: “Encontro roupas do meu tamanho em qualquer loja, sou popular entre meus amigos e não tenho nenhuma dificuldade na hora de transar. Na verdade, como saio com caras que gostam de gordinhos, sempre recebo atenção especial na hora do sexo”.

Marcel, 24 anos, de Ribeirão Preto, é magro, mas gosta de gordos. “Só sei que eu gosto. Já namorei alguns gordos, e o namoro só não deu certo porque sou galinha. Eles me parecem mais atrevidos que os magros, e, na hora do sexo, é bom sentir o peso, ter aquele monte de carne em que pegar... Isso me dá tesão”, confessa.

Driblando a ditadura

A despeito dessa popularização, a mídia continua a divulgar produtos através de homens de corpo torneado, teens pervertidos e barbies depiladas. Dificilmente, vemos alguém com quilos a mais nos anúncios – mas isso não significa que eles não estejam na moda.

A internet é o verdadeiro paraíso para os amantes de gordinhos. Em qualquer site pornô, há uma galeria especializada. Quase sempre, eles estão com os ursos, que acrescentam pêlos às dobrinhas, mas a presença dos gordinhos lisos é inevitável, agradando a gregos e troianos.

No orkut (www.orkut.com) e em outros sites do gênero, quem tem excesso de gostosura se reúne em comunidades ativas, troca experiências e até marca encontros.

Alfredo, que faz parte de cinco comunidades dedicadas à troca de informações e encontros entre gordos e admiradores, diz que, no começo, é difícil se relacionar com as pessoas, pois a impressão é de que querem apenas sexo, “mas depois que você começa a conhecer alguns membros, fica mais fácil. Você troca idéias sobre baladas, admiradores e impressões. Na internet, tem gente buscando especificamente o seu biótipo. Isso facilita na hora do encontro”, diz ele, que diz ter conhecido muita gente interessante em e-groups.

Em grandes centros, como São Paulo, há baladas que atraem maior número de gordinhos e seus admiradores, e, nos cruising bars, eles já se expõem com orgulho. “Antigamente, não eram só os gordinhos que tinham vergonha de se expor, mas também seus admiradores. Hoje, é comum você andar ao lado de um gordinho e notar que as pessoas estão cobiçando a ele, e não a você”, explica Marcel. Já diziam os mais sábios: sensualidade não tem medidas.