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Pastor Marco Feliciano manda prender casal lésbico durante culto em SP

Casal é agredido pela polícia e evangélicos presentes no evento aplaudem a cena

por Caio Delcolli

   

São Sebastião, região litorânea de SP – Duas garotas foram presas e agredidas por guardas civis depois de terem se beijado durante um culto evangélico ministrado por Marco Feliciano (PSC-SP), pastor, deputado federal e atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Ele próprio solicitou do palco a prisão do casal. “Essas duas precisam sair daqui algemadas”, disse.

No culto, um grupo pró-direitos LGBTs e contrário à posição do pastor na CDHM protestava com cartazes e palavras de ordem. As estudantes Joana Palhares, 18, e Yunka Mihura, 20, foram retiradas truculentamente pela Guarda Civil do município enquanto os evangélicos presentes no evento aplaudiam a cena. Joana disse ter sido jogada contra a grade pelos guardas. Depois, ambas foram levadas para um ambiente embaixo do palco. “Onde fui agredida por três guardas. E ainda levei dois tapas na cara”, afirmou Joana.

“Me senti impotente enquanto a Joana apanhava e eu não podia fazer nada”, comentou Yunka, que não foi agredida pelos guardas. Segundo ela, casais heterossexuais que se beijaram durante o evento não sofreram o mesmo tipo de reação. O Glorifica Litoral aconteceu no último domingo (15/09) e reuniu aproximadamente 100 mil pessoas.

Depois de levadas pelos guardas, Feliciano disse: “Esse pessoal que não tem respeito a mãe, nem pai, nem a ninguém. Cachorrinho que está latindo é assim, você ignorou, ele para de latir”.

Joana ficou com hematomas nos braços e pernas e passou por um exame de corpo de delito na delegacia. Ela e Yunka fizeram um boletim de ocorrência contra os guardas. “Foi uma afronta gravíssima aos direitos humanos e ao direito à livre expressão”, disse Daniel Galani, advogado das duas. Ele vai formalizar a denúncia contra Feliciano.

Em entrevista ao Estadão, Yunca disse que ambas foram ameaçadas na delegacia. “Eles mandavam a gente calar a boca e diziam que iam colocar a gente na cadeia”, afirmou. A moça disse que ambas não se arrependem do que fizeram.

“Queríamos mostrar que ser homossexual é uma coisa normal. O próprio deputado incitou à violência, pois antes de ele se apresentar, a gente já havia se beijado normalmente durante os cultos”, disse Joana na entrevista.

Através de uma nota, a prefeitura de São Sebastião disse que os “supostos” abusos por parte da Guarda Civil serão apurados pela corregedoria da própria instituição. Também informou que a GCM agiu embasada no artigo 208 do Código Penal, que diz: “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”

Clique aqui para ver no Uol um vídeo com depoimento do casal.

Clique aqui para ver no G1 um vídeo com depoimento do casal.

Reações

A cantora Daniela Mercury e sua a esposa, a jornalista Malu Verçosa, se manifestaram a favor de Joana e Yunca. No Instagram, Daniela publicou uma foto das duas se beijando com o texto: “Valeu, Yunka e Joana. Só uma pergunta: é proibido beijar no Brasil, é?”.

                 

Feliciano disse em seu Twitter: “Final de Copa, Argentina e Brasil, 4 argentinos tendo sua arquibancada vêm sentar entre os brasileiros, e começam a xingá-los, imagine. Ou são loucos e necessitam de tratamento mental urgente, ou são baderneiros que querem 5 minutos de fama ou querem briga.” Ele também citou o artigo 208 do Código Penal em um tweet.

Imagens: Reprodução Facebook/Reginaldo Pulpo e Estadão/Instagram