PERFIL

Chuteira de ouro

 

Há cerca de quatro anos, Wilson Oliver Elías, ex-astro do Nacional do Uruguai e na época com 38 anos de idade, tornava-se o primeiro jogador de futebol a sair do armário, em entrevista à revista Gay Barcelona.

 

por Flavia Baldi


Capa da edição de 'Gay Barcelona' com Wilson Oliver

Dezenove anos antes, Oliver chegava ao auge de sua carreira. Jogava na primeira divisão do Nacional do Uruguai, um grande time de seu país, pelo qual conquistou os títulos de Campeão da América e do mundo.

O público e a mídia o adoravam. Ele era visto como um rapaz esforçado e dedicado – e, como sempre acontece quando alguém se destaca, começaram as intrigas...

Discriminação indireta
Apesar de jovem, Wilson Oliver já sabia o que queria. Muitos jogadores de futebol gays, com medo do machismo e da homofobia reinantes no esporte, optam pelo casamento e por uma vida dupla.

Oliver não quis seguir por esse caminho – e um homem jovem e bonito, de 1,80 m, olhos claros e sem namorada, noiva ou esposa chamava a atenção.

Não bastasse isso, ele saía regularmente com seus amigos gays e frequentava bares e baladas GLS. Como era de se esperar, os comentários surgiram, e logo o Nacional deu um jeito de se livrar do “problema”.

“[Eles] me cederam a outra equipe, o Tanque Sisley, que era uma espécie de sucursal de reservas do Nacional [...]. O importante [...] era me vender o mais rapidamente possível e conseguir uma boa quantia em dinheiro, mas, claro, nesse momento, todo mundo sabia que eu era gay”, contou o ex-jogador à Gay Barcelona.

Exílio
Oliver era esforçado e seu sucesso não aconteceu do nada: ele começou a carreira como atleta em um clube esportivo e, seguindo o conselho de seu treinador, passou a se dedicar também ao futebol.

Foi nas equipes juvenis que descobriu sua habilidade com a bola, e, aos 18 anos, quando se mudou para Montevidéu, foi contratado pelo Nacional. Soa até absurdo que um time abra mão de um excelente jogador por puro preconceito.

Não foi, porém, sua única experiência. Depois do Tanque Sisley, o jogador conseguiu que o clube liberasse seu passe e, assim, optou por trabalhar no exterior. Jogou em uma equipe de segunda divisão, e lá foi selecionado sete vezes como melhor jogador.

Ganhando destaque novamente, foi comprado pelo Portuguesa de Maracaibo, um clube da Venezuela, e, durante o ano em que jogou lá, dedicou-se exclusivamente ao futebol, pois, segundo ele, o país era ainda “mais machista e homofóbico que o Uruguai”.

Retorno
Depois disso, Wilson Oliver alternou temporadas entre Guatemala e El Salvador, para então retornar ao Uruguai, onde jogou na segunda divisão do Vila Espanhola – mas não aguentou. Muitos já sabiam que ele era gay e gritavam nos estádios e nas ruas palavras hostis e preconceituosas.

Ele já pensava em abandonar o futebol, mas foi jogar em uma equipe do interior, o Atlético da Flórida. Lá, se sentiu reconhecido profissionalmente. Foi eleito melhor jogador e conquistou o título de Sapato de Ouro da temporada de 2002.

Quando finalmente largou o futebol, não foi fácil. Como ele disse, um amor compensa com o outro. Então, passou a se dedicar aos estudos e começou a atuar no Ministério da Educação e Cultura.

 

Para saber mais:
www.gaybarcelona.net/personajes/wilsonoliver.htm

 


Imagens: Divulgação/Reprodução (www.gaybarcelona.net), inclusive a imagem de Wilson Oliver que abre este artigo na Revista Online