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Em busca do corpo perfeito


O culto ao corpo é uma das características mais marcantes da sociedade contemporânea. Dia a dia, o número de cirurgias estéticas aumenta, e as academias de ginástica são cada vez mais freqüentadas por pessoas de todas as idades, sobretudo por homens jovens que buscam “inflar” o corpo.



por Graziele Marronato

O caminho das pedras

Para além da discussão de como essa tentativa de se encaixar no padrão “Barbie” pode se tornar uma obsessão, é importante tomar cuidado ao começar a prática de exercícios físicos, especialmente a musculação – e muitos se esquecem disso. Segundo a professora de educação física Fátima Afonso, “em primeiro lugar, quando uma pessoa resolve praticar exercícios físicos de forma sistemática, sempre indico que ela consulte um médico para averiguar suas condições físicas. O segundo passo [...] é a realização de uma avaliação física completa – resistência muscular, força, VO²máx e fl exibilidade, além de peso, altura e percentual de gordura”.
Fátima diz que, ao iniciar um programa de condicionamento físico ou musculação, o praticante fi xa uma meta e, por isso, deve se comprometer a cumprir os dias de treinamento, o descanso programado e a ter uma alimentação adequada: “Queimar essas etapas pode futuramente causar danos ao organismo, como lesões musculoesqueléticas, cansaço, desmotivação e queda de rendimento fisico”.
Foi o caso do português Nuno, que começou a treinar “duro”, como ele mesmo explica, cinco dias por semana, sem descanso. O resultado foi uma insônia intensa e sintomas que, seis meses depois de encerrado o treinamento, ainda se manifestam.


Identidade e aparência

O treino abusivo também pode causar contusões, fadiga crônica, irritabilidade, alteração no estado de humor, aumento da ansiedade e diminuição da força.
Estudos científi cos apontam que, durante o overtraining, há uma diminuição de hormônios anabólicos, como a testosterona, e aumento de hormônios catabólicos, como o cortisol, o que prejudica o sistema imunológico e pode causar infecções nas vias aéreas superiores. Qual é causa de tanto sofrimento e exagero? Geralmente, estética. Em seu livro “Nu e Vestido”, a socióloga Mirian Goldenberg afi rma que a mídia influi cada vez mais sobre os indivíduos. O resultado é a busca do tal padrão que só fez aumentar o consumo de produtos de beleza e “tornou a aparência uma dimensão essencial da identidade para um maior número de mulheres e homens”.
Goldenberg estuda o fenômeno no Rio de Janeiro, mas, no Brasil inteiro, cresce a busca por um corpo mais bonito e por esportes da moda. Para a professora Fátima, isso não é necessariamente ruim: “Há sempre um modismo. Atualmente, são as corridas de rua. Nada contra, pois há pessoas que gostam e estão preparadas para executar de forma segura e saudável” – só que nem todo mundo se enquadra nesse grupo: “Há pessoas que não estão preparadas para agüentar os esforços impostos pela atividade de rua, como ladeiras, declives e aclives e terrenos irregulares”.
Outro fator de risco para os novos praticantes é a postura errada. Maurício C. começou a treinar em academia aos 18 anos. Um ano depois, devido à má orientação, adquiriu uma dor forte no ombro que está presente até hoje. Depois de mudar de academia, Maurício não parou os exercícios, mas os pratica de forma adequada, além de também ter aula de yôga: “É importante para alongar e bom para a mente”.


Passo a passo

De acordo com Fátima, problemas posturais acarretam sobrecarga no organismo, e o encurtamento dos músculos por conta da má postura pode ocasionar dores musculares: “A sobrecarga dos exercícios físicos, aliada à postura incorreta, pode ocasionar ao corpo desequilíbrio no alinhamento postural”.
Começar a prática de exercícios, no entanto, não é algo tão penoso – mas devem ser tomadas algumas medidas importantes, especialmente observar o período de adaptação do corpo, que consiste principalmente em respeitar seus períodos de descanso.
Assim, o praticante garante a integridade do seu organismo e goza dos benefícios que exercícios físicos trazem, como aumento da massa muscular e da capacidade cardiorrespiratória, queda do percentual de gordura corpórea, auto-estima elevada, melhoria na qualidade do sono e diminuição do estresse físico e psicológico.
Aqueles que têm mais de 30 anos devem redobrar os cuidados, pois é nessa idade que se começa a perder massa magra. “Sem dúvida, é possível ganhar massa muscular aos 35 anos, diminuir o percentual de gordura e fi car com o corpo ‘rasgado’, mas há fatores genéticos que favorecem mais uns que outros”, explica Fátima.
Para os novos praticantes ou para quem desconfia que está exagerando, ficam as dicas: verifique com seu treinador se é necessário fazer uma reavaliação física, tenha cuidado com a postura e mude a alimentação – suplementos alimentares são utilizados desde que o praticante tenha antes uma alimentação adequada. Feito isso, boa malhação!



Silicone masculino

Foi-se o tempo em que cirurgia plástica era “coisa de mulher”. Nos últimos anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), as cirurgias realizadas em homens saltaram de 8% para 28% no Brasil.
Hoje, para aqueles que já tentaram de tudo e, ainda assim, não conseguiram adquirir o tórax dos sonhos, muitos cirurgiões indicam a prótese de silicone mamária masculina. O procedimento é simples: uma prótese de silicone rígido é introduzida via axilar.
São requeridas pelo menos 10 horas de internação hospitalar, mas em 24, o paciente já está apto a realizar atividades normais – desde que não faça movimentos bruscos nos braços.
Os médicos também recomendam não tomar sol e não realizar atividades físicas nos três primeiros meses. É importante realizar a cirurgia com um médico membro da SBCP.